Tempo de Deserto

Deserto… Quando pensamos neste conceito, logo o nosso imaginário é povoado pelo Saara ou outros lugares inóspitos do nosso planeta! Pensamos na aridez do ambiente: no excesso de calor e sol, falta de água, de vida; ou na insegurança, na fragilidade que o ser humano sente num território como este. Porém, tem outro sentido mais espiritual, é o lugar de introspeção. E é aqui que me quero situar.

 

Recordo as vezes em que fui convidado a fazer um dia de deserto. Estes dias têm como objetivo deixar a rotina diária que nos tolhe o tempo que devemos dedicar a nós mesmos. O deserto surge assim, como um tempo em que eu estou comigo próprio.

 

Este exercício é, à priori, bastante simples e de fácil execução. No entanto, à posteriori, revela-se bem difícil! Senão, reparemos em pequenas atitudes que temos diariamente. Consigo conduzir sem ligar a rádio? O que faço, logo que entro em casa: ligo a televisão, a telefonia, o leitor de música? Quando me sento num qualquer espaço de espera, procuro uma revista ou um jornal? Nas viagens diárias de transporte público, não vou a ouvir música ou a consultar o smartfone? São raras as ocasiões em que nos sentamos ou caminhamos em “diálogo connosco”!
 
Esta atividade de autoavaliação é-nos muito complicada. Implica o abandono de tudo o que turbe ou perturbe a autoanálise.

 

Mas é no interior de nós que reside a verdade. Para um cristão, é no mais íntimo que vive Deus! Vivemos horrores quando confrontamos o que somos com o deveríamos ser… Porém, é por aqui que devemos caminhar. Todos sabemos que as decisões vitais são tomadas num destes tempos de deserto. Todos nós já passamos pela aridez de uma escolha, de uma opção… Tal como num deserto físico, custa ou custou caminhar nessa direção! Por diversas vezes, desanimámos; doeu o caminho; faltou a água; o calor desorientou-nos; o frio gelou-nos …

 

No II Domingo de Advento, apareceu João Baptista. E o texto diz-nos que uma voz clama no deserto: "Preparai o caminho do Senhor, endireitai as suas veredas". O deserto surge como o lugar da interiorização e da conversão. É aqui que eu posso preparar-me para o Nascimento do Menino! João chama-nos para a conversão do coração; convida ao exame interior, ao confronto com a verdade. Temos que deixar o supérfluo e centrar-nos no essencial Apesar das dificuldades, pois o nosso coração, por vezes, gela; o calor deste mundo, desorienta-nos, e “recusámos” a água viva que é Jesus Cristo. Apesar da dor, temos que endireitar as veredas para que Jesus Menino chegue até nós.

 

É no deserto que nos reencontramos connosco e com o Natal!

Paulo Victória

Cronista

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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