Ser diferente não é ser raro: é ser único!

A dignidade do ser humano, enquanto valor universal, ganha uma dimensão quase divina à luz do pensamento judaico-cristão e coloca a fasquia muito alta, pois já não basta sermos diferentes. Somos únicos! A responsabilidade desta meta que cada um carrega é demasiado grande para fazermos de conta que não nos sentimos únicos e especiais desde sempre.
 
O desejo de autorrealização e a necessidade de cuidar da autoestima vão mantendo sempre viva esta meta e impele-nos quotidianamente a encontrar formas de nos diferenciarmos. Ser diferente! Uma tarefa tão vasta e tão ambígua quanto o termo diferença abarca. A riqueza do ser humano, as suas capacidades e talentos, os seus gostos e interesses… abrem perspetivas quase infinitas de sermos diferentes. Mas nesta montra gigantesca de possibilidades de ser esconde-se o perigo de nada sermos, de nos perdermos no mero processo da busca da diferença, de não sabermos quem somos, donde viemos, o que nos move e o que procuramos afinal.
 
A busca de auto satisfação no simples facto de sermos diferentes hipoteca perigosamente a nossa identidade. Deixamos de ser para passarmos a não ser... iguais aos demais. Já não nos contentamos em ser diferentes. Quanto mais raros melhor. E quando aplicamos este princípio às mais diversas dimensões da vida como o maior de todos os valores, podemos até perder a noção do belo em nome da diferença extravagante que mais ninguém ousou usar, ou a amizade porque a amiga copiou o meu estilo, ou a partilha para que seja o único a saber, a ter, a usar… É usar todas as forças para esse fim.
 
Ser único é nunca perder a identidade. É saber quem somos, é aceitar as limitações com humildade, é por a render os talentos sem falsa modéstia. Acima de tudo, é pegar em tudo o que somos e descobrir o nosso lugar. Aquele que não nos torna indispensáveis ou insubstituíveis mas que sem nós não seria a mesma coisa, nem para nós nem para os outros.
 
Ser único é um duplo desafio pessoal sempre em construção numa linha às vezes ténue do equilíbrio entre o ser raro e o ser diferente. Por um lado, exige que não nos acomodemos a ser sal sem sabor ou luz que não ilumina, e por outro impele-nos a sermos únicos sem perder a identidade de quem sabe fazer parte de um plano maior no qual temos um papel único a representar e que ninguém o fará por nós

Paulo V. Carvalho

Cronista.

Licenciado em Teologia. Pós Graduação em doutrina e ética social. Mestrado em Informática Educacional. Especialização em Educação Especial. Professor. Gosta de desafios.

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