Quando a vida te atira ao chão, VOA!
Quem nos dera que a vida fosse mais fácil. Que pudesse ser vista com a lupa aumentada que é o coração quando quer tudo o que não pode ter. Quem nos dera que a vida nos olhasse nos olhos e nos pudesse dizer que, um dia, tudo vai acabar bem. Quem nos dera que o tempo passasse devagar quando a alma nos fala a língua da luz e que o mesmo tempo cavalgasse quando a alma nos fala a língua do golpe e da ferida. Quem nos dera que a vida nunca nos atirasse ao chão. Quem nos dera que a vida nos agarrasse pela mão quando estamos de peito toldado por tudo o que é frio. A verdade é que a vida não é assim. A vida é uma raiz que nasceu em nós mas parece querer crescer fora, longe do que podemos controlar e conter. Que bom seria se pudéssemos olhar a vida nos olhos e dizer-lhe: CHEGA! Agora vais parar e vais devolver-me a paz. Agora vais parar de esticar os teus pés como quem ceifa os meus. Agora vais parar. CHEGA! Às vezes, parece que a vida nos cega. Abre caminhos sem saída, liga sirenes e aponta em direções opostas para nos confundir. Às vezes, parece que a vida nos faz correr apenas nos momentos em que já pingamos cansaço; nos faz gritar quando as cordais vocais já cederam.
CHEGA. CHEGA. CHEGA.
Talvez a vida nos espere lá ao fundo do escuro com a maior de todas as luzes. Talvez a vida esteja a guardar o melhor para o fim. Talvez a vida saiba o que faz mesmo quando já não sabemos o que fazer. Mas afinal, como se explica que a vida dê tantas voltas? Como se explica que a vida nos dê a volta? É simples. Tão simples e tão perfeito que quase comove. Deus tem as nossas vidas impressas em cada poro da sua pele feita de Céu. São muitas vidas para tomar conta. Muitas vidas para fazer bater certo. São muitas vidas para amar como se não existisse mais nenhuma. Então, de vez em quando, dão-se as emergências de Deus. E quando há uma vida em estado de emergência e a precisar de colo, Deus não dorme. Porque não pode nem quer. Mas, nesse momento, nesse segundo em que Deus olha para a vida do meu irmão, não está a olhar para mim. São muitas vidas para tomar conta. Muitas vidas para fazer bater certo. São muitas vidas para amar como se não existisse mais nenhuma. Não podemos continuar a pedir ao Céu que faça por nós o que só nós podemos fazer. Não podemos continuar a fazer beicinho quando sentimos que Deus não nos está a ouvir. Por isso, quando a vida nos prende e nos leva ao limite resta-nos dizer-lhe:
Não tenho medo do chão. O meu Pai diz que, antes de lá chegar, eu voo!
[Imagem: www.littlegatepublishing.com]