«Não fostes vós que me escolhestes, mas fui eu que vos escolhi...»
Estamos a viver a Semana dos Seminários que tem como tema «Movidos pela Misericórdia de Deus». É mais uma ocasião para rezarmos e refletirmos sobre estas casas que formam os nossos sacerdotes e que no Concilio Vaticano II foram chamadas de "coração das dioceses".
Poderia escrever como é a vida num seminário, pois vivi num seminário menor, aquele que acolhe adolescentes e jovens e que frequentam o 2º e 3º Ciclos do ensino básico, bem como o ensino secundário, e num seminário maior, onde se faz a filosofia e a teologia. Tive essa vivência numa ordem religiosa que me permitiu conhecer quer a vida consagrada, quer a vida sacerdotal, em Roma e em Portugal. Sou licenciado em teologia mas não sou sacerdote. Partilho-vos o meu ser pessoa para demonstrar que tenho alguma "experiência" de vida num seminário e conheço imensos sacerdotes, diocesanos e consagrados de vida apostólica ou contemplativa, bem como outros tantos ex-seminaristas.
Se é verdade que muitos são os chamados e poucos os que respondem positivamente a esse apelo, também é verdade que essa mesma resposta está dependente da comunidade cristã e da formação e testemunho dada nos seminários.
Enquanto pensava nestas questões, emergiu esta frase de Jesus que podemos encontrar no Evangelho de João. Aliás recomendo a leitura de Jo 15, 1-17. No seguimento do mandamento «Amai-vos uns aos outros como eu vos amei», Jesus diz que é ele que nos escolhe e nos envia para dar bons frutos. Tanto este mandamento, como este envio, são para todo o crente. Os sacerdotes serão sempre fruto de comunidades vivas e coerentes. Só o bom testemunho e a boa vivência da fé em Deus é que darão mais e santos sacerdotes.
Porém, e de forma mais específica, objetiva-se na formação, no testemunho e na vivência da fé dos já sacerdotes. De modo geral, o que "afasta" muitos jovens da vocação sacerdotal é a falta de coerência entre o que se aprende no seminário e o que alguns sacerdotes vivem no seu dia a dia.
Muitos padres são excelentes administradores das instituições das paróquias, das congregações e das ordens religiosas, mas o essencial do ministério sacerdotal, como a Palavra, a Liturgia e a Caridade, ficam aquém do esperado ou desejado... Creio que torna-se cada vez mais urgente a passagem de administradores a testemunhas do Evangelho. Penso ainda, que seja necessário refletir sobre a necessidade que há, de o padre não se limitar à administração dos sacramentos mas passar a ser o "companheiro" de viagem com o resto da comunidade cristã. Com ela vive as tristezas e as alegrias. Com ela "semeia" a Palavra de esperança no meio de tantas dúvidas e incertezas.
Precisamos de sacerdotes que sejam pastores e não inspetores do rebanho, como disse o papa Francisco na homilia do Jubileu dos Sacerdotes. Que incluam e não excluam. Que não privatizem o seu ministério. «O pastor segundo Jesus tem o coração livre para deixar as suas coisas, não vive fazendo a contabilidade do que tem e das horas de serviço: não é um contabilista do espírito, mas um bom Samaritano à procura dos necessitados.»
Precisamos de sacerdotes alegres e orantes, transformados pela Misericórdia de Deus, que nos é dada gratuitamente. E é isto que eu espero do "coração das nossas dioceses"!