liderança inaciana: Padre Adolfo Nicolàs sj
O Padre Adolfo Nicolàs sj é desde 2008 o Superior Geral da Companhia de Jesus e está de visita a Portugal onde pretende estar especialmente perto dos leigos, razão pela qual decidiu conhecer as cidades onde existem Centros Universitários da Companhia, havendo nessas cidades encontros temáticos abertos. Depois de Lisboa e antes de estar no Porto e em Braga, o P. Nicolàs esteve ontem em Coimbra onde falou de “Liderança Inaciana” num lotadíssimo Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra. No final da sua comunicação, o P. Nicolás foi presenteado com uma bela apresentação do Fado de Coimbra, pelas vozes e guitarras de algunsestudantes da cidade. Segundo o P. Geral, a liderança inaciana não difere das características de qualquer outra liderança. No entanto, os Exercícios Espirituais propostos por Santo Inácio de Loyola são o caminho inaciano específico que contém as três vertentes essenciais da liderança: ser espiritual (ser líder faz parte de uma caminhada interior de discernimento), ser sapiencial (o líder conhece a realidade e sabe ler com clareza os sinais dos tempos) e ser prática (o líder tem consciência que está ao serviço de uma missão concreta). Estas características são essenciais tanto numa comunidade eclesial, universitária ou empresarial como também em qualquer comunidade inserida no mundo em que vivemos.
O P. Nicolàs detalhou depois estes aspectos da liderança dizendo que, em primeiro lugar, um líder é uma pessoa que deve ter visão do futuro e não pode simplesmente olhar o presente. Além disso, tem que constantemente recordar aos seus colaboradores a sua visão do futuro sob pena deles se esquecerem daquilo que é essencial e fundamental e gastarem tempo e esforço noutras actividades secundárias. Na verdade, muitas vezes ocupamo-nos demasiado com assuntos "ordinários" e arriscamo-nos a não fazer o mais importante: reflectir e pensar no essencial. Um líder tem de se colocar constantemente duas perguntas: "o que queremos fazer?" e "estamos a conseguir fazer o que é necessário para chegar a esses objectivos?".
Em segundo lugar, um líder tem que ter consciência da importância das pessoas. Não há liderança sem pessoas e um líder tem de criar uma equipa a quem comunica a sua visão e com quem trabalha em conjunto delegando tarefas e promovendo a boa interacção entre todos os elementos. Ocupando as pessoas o lugar central da comunidade, um líder deve promover a formação e educação de cada membro edificando-os e capacitando-os melhor para que a equipa cumpra a sua missão fazendo um serviço de qualidade. O líder e a sua equipa constituem uma comunidade e esta deve exprimir-se melhor em termos activos do que substantivos.
O sucesso da liderança, e por conseguinte das comunidades, depende também da liberdade. Liderar não significa limitar, impôr e ser autoritário. As comunidades mais ricas são as que têm pessoas mais diferentes; a diversidade é essencial para o crescimento da comunidade, pelo que o líder deve aceitar e incentivar a liberdade de cada elemento. Por fim, o líder deve ter clarividência quanto aos valores a prosseguir, e que dão identidade à comunidade, e também tem que ter know-how, isto é, tem que saber fazer, tem de ter a técnica necessária para executar as tarefas necessárias para o cumprimento da missão da comunidade. Assim, um líder nunca pode parar de estudar, investigar, explorar e tem que ser credível, tem que ter moral para passar os valores e comunicar a sua visão, delegando tarefas e sendo activo para o cumprimento da missão de toda a equipa. Para resumir, o P. Nicolàs falou dos cinco F’s que alguns autores americanos enunciam para se ser um líder bem sucedido: 1) focused (no essencial, na excelência, nos propósitos), 2) flexible (nas relações, nas decisões, na gestão), 3) fast (não pode ser precipitado, mas desde que tenha os dados e os elementos deve tomar decisões com rapidez), 4) friendly (no trato, o líder não pode ser distante) e 5) fun (com sentido de humor). Poderíamos ainda acrescentar um sexto "F", 6) functional (no sentido de traduzir em actos as ideias). Para concluir, pode dizer-se que as funções mais importantes de um líder devem ser (1) pensar e discernir, com tempo, sobre a visão, as pessoas e a acção e (2) animar e inspirar as pessoas, oferecendo-lhes sempre a ajuda necessária. Um líder que não se relaciona com a realidade não é líder, é simplesmente um gestor. Temos que caminhar com a equipa procurando com criatividade, não temos que saber as respostas para caminhar, mas temos que ter a vontade de encontrar soluções. E convém não esquecer que quando encontramos as respostas, as perguntas já são diferentes porque a realidade, a História, está sempre a evoluir. Importa não esquecer que antes de sermos líderes de uma comunidade, temos que ser líderes da nossa própria vida, onde os cincos F's devem estar igualmente presentes.
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