In certo firmitas, in dubio libertas, in omnia caritas!

“Agora permanecem estas três coisas:

a fé, a esperança e o amor;

mas a maior de todas é o amor.”

1Cor 13, 13

 

Durante esta semana, a comunicação social deu-nos conta de inúmeras notícias mas talvez nenhuma delas bombástica. O que pode até ser bom, pois não houve uma grande catástrofe, mas também pode ser mau, pois pode não ter estado atenta a tanta coisa boa que deveria ser notícia.
 
Deparei-me com informação sobre vitórias nas olimpíadas da matemática por parte de alunos portugueses, boas prestações em vários desportos, a final do campeonato do mundo, o agudizar da crise no BES, as deserções no Bloco de Esquerda, as promessas de medidas que promovam a natalidade… uma grande variedade!
 
Não sou muito adepto de frases bonitas que parecem que foram escritas de propósito para cada um de nós e que proliferam nas redes sociais, mas a expressão que dá título a esta crónica ouvia há já muito tempo e parece encaixar que nem uma luva nesta semana.
É uma questão de verticalidade defendermos aquilo em que acreditamos e mostrar firmeza nos princípios porque nos regemos, sejam da esfera afetiva, religiosa ou profissional. Às vezes, podem ser causa, e são frequentemente, de divergências e conflitos de opinião, o que não nos deve demover daquilo em que acreditamos.
 
Mas também é verdade que não são assim tantas as coisas sobre as quais podemos afirmar inequivocamente a nossa certeza. Às vezes, não é fácil separar uma teimosia, uma mania, um pequeno orgulho do que chamamos de firmeza na defesa das nossas certezas. Afinal, que certezas tenho eu? Em que me apoio para afirmar as minhas certezas? Será a defesa das certezas o maior dos valores?
 
Se afinal não tenho a certeza absoluta, talvez seja melhor assumir uma réstia de dúvida e substituir a firmeza pela liberdade. Liberdade pessoal e liberdade ao outro, de pensar diferente, de sonhar diferente, de viver diferente… porque se não estão em causa os princípios, até que ponto a forma se pode sobrepor à liberdade?
 
Na Carta Encíclica "Caritas in veritate", Bento XVI é bastante claro e transporta-nos à última parte do título: em tudo e todos a caridade! Apesar das divergências de opinião, de clube, de partido, de ideais, de religião, de culto, etc., nunca a relação com o outro pode deixar de se pautar pela caridade, isto é, no mínimo pelo respeito e reconhecimento da dignidade do outro enquanto pessoa. O conflito e as divergências podem existir, e existem, e até são fator de crescimento mútuo. Perante tais realidades haja a honestidade de defender o que se acredita e dar liberdade ao outro de ser diferente. Mas permaneça sempre a caridade que não julga o outro enquanto pessoa e que entende que o conflito e a divergência não existem em relação à pessoa mas à sua opinião, ideal, clube, religião.
Fica um desafio: antes de uma decisão, resposta ou reação, parar e pensar no título desta crónica. Faria tudo da mesma forma?

 

 



[Imagem: Réhahn Croquevielle]

Paulo V. Carvalho

Cronista.

Licenciado em Teologia. Pós Graduação em doutrina e ética social. Mestrado em Informática Educacional. Especialização em Educação Especial. Professor. Gosta de desafios.

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