Há dias em que
Há dias em que me sinto meio perdido neste mundo. Talvez seja da quantidade de opiniões de cariz ideológico que proliferam [e só fazem mal]. Quando vou, por exemplo, no metro, olho para as pessoas e vejo gente de todo o género e feitio. Apercebo-me que é tão fácil entrar em estereótipos: preto = vagabundo; mulher de mini-saia = prostituta ou vadia; gay = bichona; tem mala de Louis Vuitton = consumista; árabe = terrorista; lê o jornal gratuito “Metro” ou “Destak” = inculto; crente ou religioso = antiquado… e por aí fora.
Uma das minhas batalhas é que o ser humano seja mais humano. Não significa sermos amiguinhos uns dos outros, todos muito felizezinhos e contentinhos da vida. Significa pensar que a pessoa não se reduz a uma característica e se uns tiveram ajudas ao longo da vida e aproveitaram, outros não as aproveitaram e outros ainda: “Ajuda? O que é isso?”.
Tento fazer o esforço de não julgar a partir das aparências, sobretudo por já ter sentido o peso do julgamento. Não significa aceitar tudo, como se tudo fosse válido, nem pensar. Apenas tentar na medida do possível pôr-se na pele da outra pessoa, antes de emitir o juízo que, mais que valorizar, anula. Há tantas histórias, por detrás de cada rosto. Tenho pensado que há muitas formas de matar. Quando se reduz a pessoa a uma característica, ela pode continuar a respirar… mas morre na sua dignidade.
[Foto: Brian Yen]