Há dias em que

Há dias em que me sinto meio perdido neste mundo. Talvez seja da quantidade de opiniões de cariz ideológico que proliferam [e só fazem mal]. Quando vou, por exemplo, no metro, olho para as pessoas e vejo gente de todo o género e feitio. Apercebo-me que é tão fácil entrar em estereótipos: preto = vagabundo; mulher de mini-saia = prostituta ou vadia; gay = bichona; tem mala de Louis Vuitton = consumista; árabe = terrorista; lê o jornal gratuito “Metro” ou “Destak” = inculto; crente ou religioso = antiquado… e por aí fora.
 
Uma das minhas batalhas é que o ser humano seja mais humano. Não significa sermos amiguinhos uns dos outros, todos muito felizezinhos e contentinhos da vida. Significa pensar que a pessoa não se reduz a uma característica e se uns tiveram ajudas ao longo da vida e aproveitaram, outros não as aproveitaram e outros ainda: “Ajuda? O que é isso?”.
 
Tento fazer o esforço de não julgar a partir das aparências, sobretudo por já ter sentido o peso do julgamento. Não significa aceitar tudo, como se tudo fosse válido, nem pensar. Apenas tentar na medida do possível pôr-se na pele da outra pessoa, antes de emitir o juízo que, mais que valorizar, anula. Há tantas histórias, por detrás de cada rosto. Tenho pensado que há muitas formas de matar. Quando se reduz a pessoa a uma característica, ela pode continuar a respirar… mas morre na sua dignidade.
 
[Foto: Brian Yen]

Paulo Duarte, sj

Cronista

É em caminho. Nesses passos vai procurando e encontrando o Ser Humano. Às vezes perde-se. Tem dificuldade com as definições, pelo perigo de poderem ser demasiado redutoras. Já como jesuíta, licenciou-se em Filosofia (Braga) e em Teologia (Madrid), foi professor e começou a ter aulas de dança (mais em linha contemporânea). Continua em estudos (será que algum dia deixará de aprender?), mais precisamente no mestrado em Teologia Fundamental (Paris). Tem interesse no diálogo, mais precisamente entre a fé e a cultura e que as pessoas sejam. A partir de Julho 2014, além de tentar ser um bom diácono, tentará ser um bom padre. 

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