E os que foram vistos dançar foram julgados insanos pelos que não conseguiam ouvir a música

A expressão do título, proferida por Friedrich Nietzsche, pode levar-nos a viagens sem tempo nem lugar mas radicadas em rostos e situações concretas um pouco por todo o lado… Talvez seja mais frequente do que imaginamos a manifestação da nossa incapacidade de ver o que nos rodeia, pelo menos numa perspetiva compreensiva e englobante da mesma. Umas vezes escapam-nos os pormenores, os detalhes importantes, outras vezes perdemo-nos nos detalhes e não abarcamos o todo significante de cada momento.

 

Estamos sempre a aprender. Numa dinâmica de apresentação no início deste ano letivo, numa turma de sexto ano, que consistia num sorteio de m&m, sendo que a cada cor correspondia uma pergunta que deveria ser respondida, surge a questão “o que te torna especial?”. De entre as várias respostas obtidas próprias da idade, a da Sara, menina sempre sorridente que sofre de uma problemática grave ao nível cognitivo, deixou a turma e a mim sem palavras durante alguns instantes: “A minha felicidade!” – respondeu a Sara.

 

Como?! Pois é, facilmente nos focamos em partes filtradas e preconceituosas da realidade, pensamos demais sobre ela e esquecemo-nos que continua a existir bem para lá da nossa interpretação. A Sara, prescindindo dessa utopia de achar que compreendemos e descobrimos o sentido de tudo, conseguiu ver a dança ouvindo a música ao mesmo tempo.

 

Quantas vezes o preconceito ou a vergonha me impediu de dançar, ou ajudar, cuidar, acreditar, professar, com o receio de que mais ninguém estivesse a ouvir a música?

 

Ou quantas vezes não me apercebi sequer que havia música?

 

Ou então quantas vezes passivamente me limite a julgar quem dançava, porque não ouvi a música ou porque o fazia diferente de mim?

 

Bom ano letivo!

Paulo V. Carvalho

Cronista.

Licenciado em Teologia. Pós Graduação em doutrina e ética social. Mestrado em Informática Educacional. Especialização em Educação Especial. Professor. Gosta de desafios.

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