As Férias e os «Constrangimentos» dos Cristãos!
O Evangelho deste domingo é adequado a esta época do ano: Férias.
«Ele disse: "Vinde comigo para um lugar isolado e descansai um pouco."»
Penso que não é uma conclusão forçada, ver neste convite, uma indicação sobre o que é o descanso ou o estar de férias para o cristão. A palavra 'férias' tem a sua origem no latim 'vacantia', plural neutro substantivado de 'vacans', particípio presente de 'vacare', ou seja, estar vazio, livre. Este 'estar vazio' não será o fim que Jesus propõe aos seus discípulos. Ele chama os seus à parte, não para não terem nada para fazer, mas para poderem estar com Ele, sem obstáculos. Ele que é tudo para eles.
Aliás, antes deste convite, Jesus escolhe e envia, em seu nome. Estes vão e depois voltam referindo tudo aquilo que fizeram e ensinaram. Não é uma exigência de "prestar contas" a um superior. É algo mais implicativo: Jesus é o centro de todas as atividades dos apóstolos e é por isso, que eles, contam tudo a Ele. Como já escrevi na crónica da semana passada: Aquilo que interessa, de facto, é procurar o Senhor e deixar-se "abraçar" por Ele no silêncio e na escuta da sua palavra. Não há uma verdadeira evangelização, uma atividade missionária genuína, se não houver este encontro com Ele. O Senhor é a fonte de todo o nosso viver.
Portanto, retiram-se para um lugar isolado. O 'deserto', é o lugar de Deus. Ali, Jesus e os seus discípulos podem repousar um pouco. Não é apenas um descanso físico, mas de intimidade com Jesus.
Cada um de nós pode, a partir deste evangelho, pensar que tipo de férias pode fazer. Ser um bom cristão, de férias, não significa andar todos os dias a proclamá-lo na praia ou no campo, mas libertar o coração dos muitos constrangimentos. São estes que, muitas vezes, se transformam em verdadeiros obstáculos no anúncio do seu Evangelho, no serviço desinteressado dos nossos irmãos.
Como exemplo destes constrangimentos, tivemos a reação de tantos cristãos à oferta do presidente da Bolívia ao Papa Francisco: O Crucifixo com a foice e o martelo. O Papa Francisco respondeu a esta questão à Aura Miguel.
O Papa desconhecia que o padre Espinal tinha sido escultor e poeta, por isso o ar de surpreendido ao receber o crucifixo. No entanto, aconselha a uma hermenêutica do tempo em que esta obra foi realizada. O padre Espinal pertenceu à Teologia da Libertação. Porém, foi assassinado quatro anos antes (1980) desta ter sido, pela primeira vez, condenada pelo Vaticano (1984). A obra de Espinal é fruto de uma análise marxista da realidade na teologia. Concluiu o Papa: «Fazendo uma hermenêutica do género (protestativo, contra a ditadura) eu percebo esta obra. Para mim, não foi uma ofensa (a oferta do crucifixo). Tive que fazer esta hermenêutica e vos dou a conhecer, para que não existam opiniões erradas. Este objeto, levo-o comigo, vem comigo.»
Nestas férias deveríamos aproveitar, para quebrar com todos os cadeados que nos prendem e não nos deixam ser verdadeiramente livres para amar a Deus e anunciar este seu amor pelo ser humano.