A União na Diversidade

Esta semana que passou, ficará para a História. Assistimos ao Brexit do Reino Unido e à viagem do Papa Francisco à Arménia. Se a primeira, aparentemente, trata do desejo de separação ou divisão, a segunda é mais um largo passo no sentido da unidade dos cristãos.
 
Os ingleses querem sair da União Europeia. Mas será que alguma vez entraram? Enquanto nós temos uma moeda comum e esperamos as ordens vindas de Bruxelas, eles sempre tiveram a sua moeda, as suas medidas, até o "conduzir à esquerda". Será que alguma vez eles entenderam verdadeiramente o que é esta União? Os governantes talvez, mas o povo? Fica aqui a questão.
 
O que li na bloomberg foi: «As 400 pessoas mais ricas do mundo perderam 127,4 biliões de dólares na sexta feira, quando os mercados de ações caíram com a noticia de que os britânicos tinham votado para sair de União Europeia». Parece-me que a europa que acaba é aquela que está mais preocupada com os interesses económicos do que com a vontade do povo. Se passeamos por Londres, vemos bem a integração das várias raças e culturas. Esta devia ser a Europa dos cidadãos e não dos mercados…
 
É verdade que este Brexit pode encorajar outras divisões, nacionalismos, xenofobias e outros egoísmos. É um perigo real porque as divisões têm o seu quê de negativo. Mas a forma de evitá-las não pode ser a vontade de uma minoria politica a homologar decisões que o neoliberalismo económico está a impor ao mundo e aos seus habitantes. E depois, é preciso saber distinguir entre divisão e diversidade. Pode-se estar unidos e cooperantes, respeitando e valorizando a diversidade de cada povo.
 
Por esta razão, também é marcante a viagem do Papa à Arménia. O respeito pela diversidade, a atitude de acolhimento do diferente, deve primar nas relações entre os povos, as culturas e as nações.
 
É neste sentido que entendo as palavras que o Papa Francisco disse na Divina Liturgia da Igreja Apostólica Arménia, o equivalente à missa da Igreja Católica de rito romano: «Surja em todos um forte anseio de unidade, uma unidade que não deve ser submissão de um ao outro, nem absorção, mas sim acolhimento de todos os dons que Deus deu a cada um para manifestar ao mundo inteiro o grande mistério da salvação realizado por Cristo Senhor através do Espírito Santo».
 
E os cristãos devem dar este testemunho de unidade na diversidade. Num mundo sem alma e com interesses, praticamente limitados à economia e ao material, os cristãos têm que "agarrar o arado sem olhar para trás". (cf. Lc 9, 62) Recordo as palavras de Kerekin II, chefe  da Igreja Apostólica da Arménia: «A fé é posta à prova pelo extremismo e por tipos de ideologias, xenofobia, dependências, vida centrada no lucro. O processo de secularização está a intensificar-se, os valores éticos e espirituais estão distorcidos e a estrutura familiar, estabelecida por Deus, é abalada. A raiz do mal na vida atual está na tentativa de construir um mundo sem Deus».
 
Uma boa semana.

 

Paulo Victória

Cronista

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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