A Igreja e o Desporto

As celebrações do bicampeonato do Benfica, vão ficar para a história por bons e maus motivos. Há mais de 3 décadas que este clube não conseguia ganhar dois campeonatos seguidos - o bom motivo. Porém, as imagens de violência em Guimarães, dentro e fora do estádio, e em Lisboa, durante os festejos, serão de má memória. Não quero aqui abordar o que correu mal, para que a celebração deste belo feito, tenha terminado desta forma. Daria "panos para mangas"! E se constato que os ingleses conseguiram "acalmar" os hooligans, por que razão não se faz um trabalho semelhante em Portugal?...

 

O Santo Padre, já falou por diversas vezes, dos benefícios do desporto para o ser humano. Todos sabemos que o Papa Francisco é adepto e sócio do Club Atlético San Lorenzo De Almagro. Fiz uma pesquisa sobre o que ele já partilhou sobre este assunto.

 

Descobri que o Conselho Pontifício para os Leigos tem uma secção chamada de "Igreja e Desporto". Pura novidade para mim! Instituída por João Paulo II em 2004, visa mostrar a solicitude da Santa Sé, num assunto tão nevrálgico da cultura contemporânea, através da sensibilização das Igrejas locais para a importância da pastoral em ambientes desportivos; estar ao serviço da paz e da fraternidade entre os povos através do desporto; suscitar o testemunho cristão entre os desportistas; promover o estudo de temáticas específicas do ponto de vista ético; entre outras... Na semana passada, 14 e 15 de Maio, decorreu em Roma o quarto seminário internacional com o tema: "Treinadores: educadores de pessoas".

 

Curioso! Ao ouvir os treinadores da "nossa praça"... Que espetáculo triste! Não contribuirão eles, juntamente com os restantes dirigentes desportivos, para tanta violência?

 

A mensagem que o Papa enviou ao presidente deste Conselho Pontifício é muito interessante.

 

«A presença de um bom treinador-educador revela-se providencial, sobretudo nos anos da adolescência e da primeira juventude, quando a personalidade está em pleno desenvolvimento e existe a busca de modelos de referência e de identificação (...) é mais real o perigo de perder-se atrás de maus exemplos e na busca de falsas felicidades».

 

Nesta fase da vida, como sabemos, bastante delicada, é grande a responsabilidade de qualquer agente desportivo ou educador, família ou professores, pelas horas que se passa com os jovens, pela influência que pode ter sobre eles graças ao seu comportamento e á sua personalidade. Os jovens, estão mais atentos ao que vivemos e de como vivemos do que àquilo que dizemos.

 

É muito importante, como escreveu o Papa «que um treinador seja exemplo de integridade, de coerência, de um justo juízo, de imparcialidade, mas também da alegria de viver, de paciência, de capacidade e estima e de benevolência para com todos, especialmente para com os mais desfavorecidos. (...)  Importante que seja um exemplo de fé.»

 

A fé, para Francisco, ajuda-nos a elevar o olhar para Deus, para não absolutizar algumas de nossas atividades, incluída a desportiva, e ter assim o justo desapego e a sabedoria para relativizar quer as derrotas que as vitória. A fé, dá-nos a bondade que faz-nos superar a tentação da rivalidade inflamada e agressiva, e assim, compreender a dignidade de cada pessoa, mesmo daquelas menos dotadas. Por isso, o treinador pode trabalhar a solidariedade e o acolhimento de jovens marginalizados.

 

Perante a violência, a agressividade verbal e física, o quase fundamentalismo de adeptos e dirigentes desportivos, quanta razão tem o Papa Francisco!...

Paulo Victória

Cronista

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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