Sal da terra, luz do mundo!, Domingo V do Tempo Comum
Grande desafio: ser luz e sabor na vida de alguém. Mas Aquele que nos conhece e que nos criou confia plenamente na sua obra-prima (apesar das muitas quedas da humanidade). No final do 6º dia da criação, quando Deus moldou a humanidade e insuflou o sopro de vida viu que esta era muito boa. Deus acredita na criação, Deus acredita em nós, Deus acredita no fundo bom e belo do coração da humanidade, Deus confia no poder construtivo da humanidade – por isso Jesus pede que sejamos luz e sal.
A imagem do sal é bastante abrangente e engloba diferentes imagens e funções.
A primeira imagem é a de dar sabor aos alimentos – “A imagem do sal indica que os discípulos devem difundir no mundo uma sabedoria capaz de dar sabor e significado à vida. Sem a sapiência do Evangelho que sentidos teriam a vida, as alegrias e as dores?”
O sal também é usado para conservar os alimentos – “O cristão é o sal da terra: com a sua presença é chamado a impedir a corrupção, a não permitir que a sociedade, guiada por princípios maus, se decomponha e apodreça”.
O sal era usado também para confirmar a inviolabilidade dos pactos – “as partes cumpriam o rito de consumir pão e sal, ou apenas sal. Este acordo solene era chamado «aliança de sal». Assim é chamada a aliança eterna feita por Deus com a dinastia de David (2 Cr 13, 5). Também neste sentido os cristãos são sal da terra. Testemunham a indefectibilidade do amor de Deus: mostram que nunca nenhum pecado poderá comprometer o pacto de fidelidade que o une ao homem”(Fernando Armelliani – O Banquete da Palavra, Paulinas Editora).
Difícil ser luz no mundo, difícil ser sal da terra em cada dia e a cada momento. Mas ninguém é luz e sal por si mesmo; somos sal e luz na medida em que nos unirmos à “luz verdadeira que ilumina toda a humanidade” (Jo 1, 9).
Escreve Enzo Bianchi “os cristão estão no mundo, entre os homens, solidários com eles. São conscientes da sua responsabilidade na sociedade, são cidadãos da polis de pleno direito. Porém, não devem conformar-se com as modas, a mentalidade da época. Não acomodar-se à mentalidade deste mundo significa ter a coragem de denunciar os ídolos alienantes e combate-los, levar uma vida marcada pela diferença cristã…” (Jesús, Dios com nosotros, Ediciones Sigueme).
Um cristão anónimo do século II escreveu uma Carta a Diogneto em que nos fala da diferença cristã no mundo: “Os cristãos não se distinguem dos demais homens nem pela nacionalidade nem pela língua nem pelos costumes. Nem, em parte alguma, habitam em cidades peculiares, nem usam alguma língua distinta, nem vivem uma vida de natureza singular. Nem uma doutrina desta natureza deve a sua descoberta à invenção ou conjetura de homens de espírito irrequieto, nem defendem, como alguns, uma doutrina humana. Habitando cidades gregas e bárbaras, conforme coube em sorte a cada um, e seguindo os usos e costumes das regiões, no vestuário, no regime alimentar e no resto da vida, revelam unanimemente uma maravilhosa e paradoxal constituição no seu regime de vida político-social. Habitam pátrias próprias, mas como peregrinos: participam de tudo como cidadãos e tudo suportam como estrangeiros” (A Diogneto, Philokalia, Alcalá).
Como podemos fazer brilhar e despontar a luz para os outros, já que o cristão não é o egoísta que deixa a luz escondida, sem oxigénio para alimentar a chama? O profeta Isaías aponta algumas pistas para alimentarmos a chama e assim sermos luz no mundo: “Reparte o teu pão com o faminto, dá pousada aos pobres sem abrigo, leva roupa ao que não tem que vestir e não voltes as costas ao teu semelhante. Então a tua luz despontará como a aurora e as tuas feridas não tardarão a sarar… Se tirares do meio de ti a opressão, os gestos de ameaça e as palavras ofensivas, se deres do teu pão ao faminto e matares a fome ao indigente, a tua luz brilhará na escuridão e a tua noite será como o meio-dia” (Is 58, 7-10).
Redator Liturgia.
Professor de EMRC. Adora viajar! Caminhante de Santiago de Compostela e Terra Santa.