Graças de Deus, graças a Deus!

Lavar o dia 8 agosto 2025  •  Tempo de Leitura: 4

“O Senhor mo deu, o Senhor mo tirou;

bendito seja o nome do Senhor” (Jb 1, 21)!

 

Senhor, sei que sou muitas vezes ingrata porque na dor e na tristeza nem sempre sou capaz de ver a tua graça e nos momentos de alegria nem sempre me detenho para agradecer. Também sei que me conheces melhor do que eu e, por isso, relevas este meu jeito desajeitado de te amar.

Hoje lembrei-me de Job e desta declaração de amor e de confiança absoluta em ti. Diante da perda da sua família, dos seus bens e coberto de chagas em vez de maldizer a sua ‘sorte’ escolhe bendizer-te. Job reconhece a gratuidade dos teus dons, mesmo no seu momento de maior infortúnio. Vendo Job assim não consigo concordar com o dizer popular: “ter a paciência de Job”. Não vejo na sua atitude uma atitude de paciência, como se estivesse à espera que a tua birra passasse, mas sim como o reconhecimento do teu amor. Mesmo perdendo tudo, não deixa de confiar na tua infinita sabedoria, misericórdia e bondade e quanto mais penso nisso mais sentido faz.

Quantas vezes dizemos que as verdadeiras amizades se veem quando passamos por provações? Quantos ‘amigos’ nos viram as costas quando mais precisamos deles? Quantas vezes aprendemos mais nesses momentos, nas quedas ao longo do caminho pedregoso, quando parece que ninguém nos estende a mão para nos ajudar a levantar do que quando caminhamos pelas planícies do percurso nas quais não há pedras onde possamos tropeçar?

Pessoalmente, aprendi e cresci mais nos momentos em navegava no Cabo das Tormentas do que quando dobrava o Cabo da Boa Esperança. Navegar as intempéries da vida não é fácil. Muitas vezes pensei que ia ser engolida pelo mar revolto e muitas outras tive vontade de me deixar afogar. Até começar a conhecer-te melhor, nessas alturas senti-me sozinha, abandonada e estive certa que ninguém me viria resgatar. Não conseguia perceber porque estava a ser castigada sem o merecer. Nesses momentos quantas vezes te viramos as costas e deixamos de dar crédito às tuas palavras?

Nas primeiras traduções do Pai Nosso para o português, rezava-se “(…) perdoai as nossas dívidas (…)”. Estas dívidas são precisamente estes momentos em que não damos crédito ao que dizes. Dívidas, dividir. Temos bem a noção de que quem divide é o anjo caído que não te deu crédito e a quem damos tantos nomes: Satanás, Diabo, Lúcifer, Belzebub, etc.? O mesmo que, quando te fizeste Homem, no deserto tentou dividir-te, separar-te do amor incondicional que te une ao Pai e da tua fidelidade à sua vontade. 

Reconhecer as nossas dívidas é reconhecer as nossas fragilidades. Os momentos em que não sabemos amar o outro e, principalmente, os que deixamos de dar crédito a ti. Nestes momentos de enganadora autossuficiência distorcemos a tua imagem, recusamos a nossa semelhança a ti, desumanizando-nos. Momentos em que, ao contrário de Job, não conseguimos bendizer-te.

Duas frases do Papa Leão XIV interpelaram-me e despoletaram a confissão desta semana: “Recebemos a vida gratuitamente, sem a escolher! Na origem de nós mesmos não houve uma decisão nossa, mas um amor que nos quis”.

Peço-te, pois, Senhor, a graça de reconhecer em todos os momentos a gratuidade da vida que me deste e do amor que já me tinhas mesmo antes da minha existência; a graça de saber ver a tua mão nas mãos dos que amparam as minhas quedas ou dos que me ajudam a levantar e a graça de dar sempre crédito à tua Palavra, mesmo quando é difícil.

Bendito, sejas, Senhor, pela vida que entregaste e pela Vida que és em mim!

tags: Raquel dias

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