A evolução do Natal ao longo dos séculos

Razões para Acreditar 5 dezembro 2022  •  Tempo de Leitura: 16

Não há símbolo natalício mais reconhecível do que o Pai Natal – um homem de barbas que também é conhecido por São Nicolau. O Pai Natal é baseado num bispo grego do século III que ficou associado à distribuição de presentes no mês de dezembro. Neste ícone russo, São Nicolau está rodeado por cenas que representam a sua vida.

 

O Natal é uma época de alegria – mas como se tornou tão popular? Repleto de tradição e festividade, este feriado cristão, celebrado na maior parte do mundo no dia 25 de dezembro, festeja o nascimento de Jesus Cristo em Belém.

 

Nos tempos modernos, este feriado tornou-se cada vez mais secularizado, sendo pautado por uma época de boa disposição, diversão em família e tradições provenientes de uma variedade de culturas. Descubra as raízes do Natal e de algumas das suas tradições mais apreciadas.

 

Quando é que nasceu Jesus Cristo?

Adoração dos Magos

Esta pintura de Juan Correa de Vivar, chamada Adoração dos Magos, retrata os três Reis Magos na sua visita ao recém-nascido Jesus Cristo. Apesar do nascimento de Jesus ser celebrado no dia 25 de dezembro, os evangelhos não mencionam a data específica do seu nascimento.

Fotografia por Juan Correa De Vivar, Oronoz, art Resource

Carlos Magno, rei dos Francos.pilar de pedra esculpido no século XII
Esquerda:

Carlos Magno foi coroado imperador cristão do oeste na Catedral de São Pedro, em Roma, no dia de Natal em 800 d.C. Naquela época, a igreja cristã tinha começado a celebrar o Natal no dia 25 de dezembro – embora os historiadores discordem sobre a forma como a igreja estabeleceu esta data.

Direita:

O mês de dezembro e o banquete de Natal estão detalhados na lateral de um pilar de pedra esculpido no século XII em Souvigny, França.

fotografias de A Dagli Orti / NPL - DeA Picture Library, Bridgeman Images

 

Os evangelhos cristãos não mencionam a data de nascimento de Jesus, conhecida por Natividade, mas contam a história da sua conceção imaculada e nascimento humilde.

 

De acordo com os evangelhos, Maria, a mãe de Jesus, foi uma virgem selecionada por Deus para ter o seu único filho. Depois de saber que Maria estava grávida, o seu noivo, um carpinteiro chamado José, quis cancelar o noivado. Mas José foi visitado por um anjo nos seus sonhos que lhe disse para não ter medo. Os noivos fizeram depois uma árdua jornada até Belém para participarem num censo obrigatório. (O Advento é uma época para refletir, acender velas e ter expectativa.)

 

O enorme fluxo de visitantes em Belém significava que não havia hospedagem para Maria e José. Mas um estalajadeiro teve pena do casal e deixou-os dormir no seu estábulo, onde Maria deu à luz o filho de Deus. Maria deitou o menino numa manjedoura enquanto os anjos cantavam e uma estrela começava a brilhar intensamente no céu.

 

Não existe consenso entre os historiadores sobre a forma como o dia 25 de dezembro ficou associado ao Natal. No entanto, por volta do ano 336 d.C., o Natal era celebrado pela igreja cristã em Roma naquele dia, que coincidia com o festival romano do equinócio de inverno – o Saturnália. (Algumas pessoas celebram o Natal em janeiro. Porquê?)

 

Pai Natal a ouvir rádioCartão de Natal húngaro
Esquerda:

O Pai Natal ouve rádio num cartão publicitário de 1924 para a revista St. Nicholas. Conforme os imigrantes chegavam aos Estados Unidos, levavam as suas próprias tradições consigo.

Direita:

Ao longo da história existiram diversas iterações do Pai Natal, incluindo este postal de Natal húngaro do século XX que retrata o Pai Natal com um casaco azul, um saco de brinquedos e uma cesta de fruta.

fotografias de Bridgeman Images

 

Pai NatalCartão de Natal francês mostrando o Pai Natal trazendo presentes, 1900
Esquerda:

Uma gravura inglesa do século XIX retrata o Pai Natal com presentes e uma árvore de Natal com velas. A maioria dos historiadores rastreia as origens da árvore de Natal até à Alemanha – mas esta tradição só ficou popular no século XIX, quando foi adotada pela família real britânica.

Direita:

Um postal de Natal francês de 1900 mostra o Pai Natal a levar presentes para as crianças. A maioria das representações mostra o Pai Natal a entregar presentes às crianças bem comportadas de todo o mundo.

fotografias de art Resource

 

Os festivais de inverno já existiam pelo mundo inteiro desde a antiguidade, mas muitas das tradições destes festivais ficaram eventualmente associadas ao Natal. Por exemplo, o festival germânico do solstício – Yule – consistia em banquetes e celebrações, e os druidas celtas realizavam um festival de solstício de dois dias durante o qual acendiam velas e decoravam as suas casas com azevinho.

 

Celebrações medievais de Natal

Com o passar do tempo, o Natal começou a ganhar popularidade – e novas tradições. Em Inglaterra, na época medieval, o Natal era um festival de 12 dias que envolvia todos os tipos de folia, desde peças de teatro a banquetes e encenações que celebravam o nascimento de Jesus. Música, presentes e decorações tornaram-se assim na norma.

 

As festas mais extravagantes eram celebradas por monarcas como Henrique III, cujos convidados se banquetearam com 600 bois numa festa de Natal no século XIII. As universidades coroavam um “Rei do Natal” ou “Rei do Feijão” que “governava” os seus pares durante a época de festividades, e as celebrações mais modestas incluíam hinos e canções de natal.

 

Jantar de Natal na Alemanha do século XV

As festas de Natal – como este exuberante jantar de Natal na Alemanha do século XV – são uma tradição de longa data na Europa. Em Inglaterra, na época medieval, o Natal era um festival de 12 dias que envolvia todos os tipos de folia.

Fotografia por Bridgeman Images

natal alemãoCapa da revista alemã Moderne Kunst
Esquerda:

Uma carta de Natal de 1984 diz “Feliz Natal” em alemão. A árvore de Natal não é a única tradição cujas origens remontam à Alemanha – os quebra-nozes e os calendários do Advento também faziam parte do típico Natal alemão.

Fotografia por Ute Franz-Scarciglia, art Resource

Direita:

Na capa da revista alemã Moderne Kunst, ilustrada pelo artista Friedrich Stahl, vamos uma jovem com marionetas e uma árvore de Natal.

Fotografia por Friedrich Stahl, De Agostini Picture Library, Bridgeman Images

 

Porém, nem todas as pessoas gostavam destas celebrações. Em 1644, os puritanos ingleses baniram o feriado, provocando motins e ajudando a despoletar a segunda guerra civil de Inglaterra.

 

Influência da Alemanha no Natal

A Inglaterra não era a detentora do monopólio do Natal. Pelo mundo inteiro, as pessoas começaram a incorporar as tradições dos seus festivais de inverno no Natal – sobretudo os alemães.

 

Ilustração de uma noite movimentada em Londres

Esta ilustração mostra uma noite movimentada em Londres, onde as pessoas se apressam para comprar árvores de Natal e presentes numa feira de brinquedos. Embora o Natal tenha origens religiosas, ao longo do tempo este feriado foi ficando cada vez mais secular e consumista.

Fotografia por Bridgeman Images

 

A Alemanha é creditada por criar um símbolo universal, a árvore de Natal, que evoluiu a partir da tradição pagã de decorar as casas com ramos de árvores. Os alemães chamaram Tannenbaum à sua versão, um pinheiro adornado com velas e presentes. Esta tradição ganhou popularidade no século XIX, quando a família real britânica, de raízes alemãs, ergueu uma árvore de Natal e deu início a uma tendência mundial.

 

Na Alemanha – país de origem de muitas outras tradições, como as grinaldas do Advento, os quebra-nozes e os mercados de Natal – o Natal também foi moldado pelas forças políticas. Na década de 1930, os nazis tentaram redefinir este feriado como uma celebração não cristã do Terceiro Reich.

 

Os EUA apaixonam-se pelo Natal

Tal como aconteceu em Inglaterra, os puritanos americanos também baniram o Natal em Massachusetts em 1659, mas suspenderam a sua proibição em 1681. Nos Estados Unidos, o Natal só começou realmente a ser celebrado durante a Guerra Civil, porque reforçava a importância do lar e da família. Em 1870, após o fim da guerra, o Congresso fez do Natal o primeiro feriado federal do país.

 

Enquanto isso, os EUA foram inundados por imigrantes durante a segunda metade do século XIX, e estes imigrantes levaram consigo as suas próprias tradições. De acordo com o historiador William D. Crump em The Christmas Encyclopedia, “isto criou uma espécie de melting pot natalício, com a assimilação de várias culturas num feriado mais uniforme e amplamente celebrado em casa com a família”.

 

postal de Natalpostal de Natal
Esquerda:

Um postal de Natal mostra um ramo de azevinho e as suas características bagas vermelhas, um símbolo comum desta época. A troca de postais é uma tradição de Natal que foi parcialmente influenciada nos EUA pela Hallmark Cards.

Direita:

A capa deste postal de Natal retrata uma cena icónica: o Pai Natal a descer pela chaminé para entregar presentes enquanto as renas esperam no telhado com o trenó.

fotografias de Bridgeman Images

 

Um dos ícones culturais levados pelos imigrantes para os EUA viria a tornar-se numa celebridade distintamente americana – o Pai Natal.

 

Como São Nicolau se transformou no Pai Natal

Uma das figuras mais populares do Natal moderno é o Pai Natal, o patriarca barrigudo com barba branca que viaja num trenó guiado por renas para entregar presentes às crianças bem comportadas pelo mundo inteiro. Este personagem é baseado em São Nicolau, um bispo grego do século III que ficou associado ao ato de oferecer presentes em dezembro. (De São Nicolau a Pai Natal: as surpreendentes origens do senhor Claus.)

 

O Pai Natal foi levado para os EUA pelos imigrantes alemães e neerlandeses nos séculos XVIII e XIX. E ficou popularizado nas histórias de autores americanos como Washington Irving e Clement Clarke Moore – cujo poema “Uma visita de São Nicolau” é provavelmente mais conhecido pelas suas palavras iniciais, “Era a noite antes do Natal”.

 

O visual icónico do Pai Natal foi propagado pelo ilustrador Thomas Nast, que se baseou nos contos folclóricos europeus para criar um Pai Natal cuja popularidade rapidamente se espalhou pelo mundo inteiro. Em 1890, o comerciante James Edgar deu início a uma tradição ao vestir-se de Pai Natal e cumprimentando as crianças nos corredores do seu centro comercial em Brockton, no Massachusetts. A ideia pegou e, desde então, o Pai Natal “frequenta” os centros comerciais para alegrar as crianças.

 

As origens de outras tradições de Natal

Devido às noites longas e escuras, as luzes foram sempre uma presença nos festivais de inverno. As luzes elétricas de Natal são uma variante moderna das velas que os alemães colocavam nas suas árvores. Thomas Edison, o inventor da lâmpada, é considerado o inventor do primeiro fio de luzes. Em 1882, o seu sócio, Edward H. Johnson, criou a primeira árvore de Natal iluminada com luzes coloridas.

 

A inovação americana também moldou a tradição popular de troca de presentes no Natal. No século XX, o papel de embrulho comercial substituiu o papel de embrulho castanho, quando Rollie B. Hall, cujo irmão fundou a Hallmark Cards, usou os forros de envelopes franceses estilizados depois de ter ficado sem papel na sua loja. A Hallmark Cards também teve influência nos postais modernos de Natal, alterando os pequenos cartões impressos de papelão de finais do século XIX para criar um postal maior com um formato semelhante ao de um livro, perfeito para partilhar sentimentos personalizados.

 

Os presentes, postais e decorações fazem todos parte da tradição, contudo, para muitas pessoas, o Natal não está completo sem os seus pratos favoritos. Nos EUA, as casas de bolachas de gengibre ganharam a sua popularidade natalícia no início do século XIX, quando os irmãos Grimm publicaram Hansel and Gretel, no qual duas crianças são raptadas por uma bruxa que vive numa casa com paredes feitas de bolachas de gengibre e outros doces. Desde o bolo-rei a ponches típicos desta época, cada cultura tem a sua própria versão do que é considerada comida de Natal.

 

Uma festividade cada vez mais secular

Apesar de o Natal ter origens religiosas, tornou-se num feriado secular – e cada vez mais consumista. Este facto já desperta preocupação há séculos, diz a historiadora Lisa Jacobson. “As pessoas já criticam o consumismo excessivo do Natal desde a sua encarnação [moderna] em meados do século XIX. Não creio que esta ambivalência alguma vez tenha desaparecido por completo.” (Celebrações de Natal pelo mundo inteiro.)

 

As pessoas que receiam que o Natal se tenha desviado das suas raízes religiosas não estão erradas. Em 2019, mais de nove em cada dez americanos entrevistados para uma sondagem da Gallup disseram que celebravam o Natal, mas só 35% disseram que consideravam esta época como sendo “fortemente religiosa”. Porém, dada a sua mistura de tradições pagãs e religiosas, o Natal oferece algo – sagrado ou não – para todos os que o celebram.  

 

[POR ERIN BLAKEMORE | National Geographic]

tags: Natal

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