Papa explica missa passo a passo: Ritos iniciais

Vaticano 21 dezembro 2017  •  Tempo de Leitura: 7

Hoje desejo entrar no âmago da celebração eucarística. Estamos a fazer a catequese da missa, a missa é composta por duas partes, que são a Liturgia da Palavra e a Liturgia eucarística, tão estreitamente conjuntas entre elas que formam um único ato de culto. Introduzida por alguns ritos preparatórios e concluída por outros, a celebração é portanto um único corpo e não se pode separar, mas para uma melhor compreensão procurarei explicar os seus vários momentos, cada um dos quais é capaz de tocar e envolver uma dimensão da nossa humanidade. É necessário conhecer estes santos sinais para viver plenamente a missa e saborear toda a sua beleza.

 

Quando o povo está reunido, a celebração abre-se com os ritos introdutivos, compreendendo a entrada, a saudação («A graça de Nosso Senhor Jesus Cristo, o amor do Pai e a comunhão do Espírito Santo estejam convosco», «O Senhor esteja convosco», o ato penitencial («Confesso a Deus todo-poderoso e a vós, irmãos, que pequei muitas vezes por pensamentos e palavras, actos e omissões…», onde pedimos perdão pelos nossos pecados), o “Kyrie eleison” [Senhor, tende piedade], o hino do Glória e a oração coleta, não porque se faz a coleta com as ofertas, mas a coleta das intenções de todos os povos, que sobem ao céu como oração. O propósito desta introdução é de fazer com que «os fiéis, reunidos em conjunto, formem uma comunidade, e se disponham a escutar com fé a Palavra de Deus e a celebrar dignamente a Eucaristia». Não é um bom hábito olhar para o relógio e fazer cálculos, a missa começa com estes ritos introdutivos, por isso é preciso chegar antecipadamente, não atrasado para esta celebração com a comunidade.

 

Enquanto que normalmente decorre o cântico de entrada, o sacerdote com os outros ministros chega em procissão ao presbitério [espaço na igreja ocupado pelo clero durante a celebração], e aí saúda o altar com uma inclinação e, em sinal de veneração, beija-o e incensa-o. Porque o altar é Cristo, é o encontro com Ele. Estes gestos, que arriscam passar sem serem vistos, são muitos significativos porque exprimem desde o início que a missa é um encontro de amor com Cristo, o qual «oferecendo o seu corpo na cruz (…) se torna altar, vítima e sacerdote». O altar, com efeito, enquanto sinal de Cristo, «é o centro da ação de graças que se completa com a Eucaristia».  

 

Depois há o sinal da cruz. O sacerdote que preside traça-o sobre si e o mesmo fazem todos os membros da assembleia, conscientes de que o ato litúrgico se realiza «em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo». Já tereis visto como as crianças fazem o sinal da cruz, muitas vezes não sabem o que fazem, parece que fazem um desenho que não é o sinal da cruz; por favor, ensinai às crianças a fazer bem o sinal da cruz, peço-o às mamãs, aos papás e aos avós. Toda a oração se move, por assim dizer, no espaço da Santíssima Trindade, que é espaço de comunhão infinita; tem como origem e como fim o amor de Deus Uno e Trino, manifestado e dado a nós na cruz de Cristo. De facto, o seu mistério pascal é dom da Trindade, e a Eucaristia brota sempre do seu coração trespassado. Assinalando-nos com o sinal da cruz, por isso, não só fazemos memória do nosso Batismo, mas afirmamos que a oração litúrgica é o encontro com Deus em Jesus Cristo, que por nós incarnou [fez-se carne], morreu na cruz e ressuscitou glorioso.
Se verdadeiramente a Eucaristia torna presente o mistério pascal, ou seja, a passagem de Cristo da morte à vida, então a primeira coisa que devemos fazer é reconhecer quais são as nossas situações de morte para poder ressuscitar com Ele para a vida nova

 

O sacerdote, então, dirige a saudação eucarística com a expressão «o Senhor esteja convosco» ou outra semelhante; e a assembleia responde «Ele está no meio de nós». Estamos em diálogo. Estamos no início da missa e devemos pensar no significado de todos estes gestos e palavras. Estamos a entrar numa “sinfonia”, na qual ressoam várias tonalidades de vozes, incluindo tempos de silêncio, com vista a criar o “acordo” entre todos os participantes, isto é, reconhecer-se animados por um único Espírito e por um mesmo fim. Com efeito, «a saudação sacerdotal e a resposta do povo manifestam o mistério da Igreja reunida». Exprime-se assim a fé comum e o desejo recíproco de estar com o Senhor e de viver a unidade com toda a comunidade.

 

A sinfonia orante que se está a criar apresenta logo um momento muito tocante, porque quem preside convida todos a reconhecer os próprios pecados. Todos somos pecadores, não sei se algum de vós não é pecador, se algum de vós não o é levante a mão – bem, não vejo mãos levantadas, portanto somos todos bons fiéis. É o ato penitencial. Não se trata apenas de pensar nos pecados cometidos, mas muito mais: é o convite a confessar-se pecador diante de Deus e dos irmãos, com humildade e sinceridade, como o publicano no templo. Se verdadeiramente a Eucaristia torna presente o mistério pascal, ou seja, a passagem de Cristo da morte à vida, então a primeira coisa que devemos fazer é reconhecer quais são as nossas situações de morte para poder ressuscitar com Ele para a vida nova. Isto faz-nos compreender o quanto é importante o ato penitencial. E por isso retomaremos o assunto na próxima catequese.

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