«É horrível a vida à frente do espelho, é horrível»

Vaticano 24 setembro 2018  •  Tempo de Leitura: 4

O papa reiterou este sábado que uma existência que se preocupa com a aparência, concentrada na própria pessoa e ao mesmo tempo incapaz de empatia, compaixão e interesse pelos outros está condenada à infelicidade.

 

«Não permitis que o mundo vos faça acreditar que é melhor caminhar sozinhos. Sozinho nunca se chega. Sim, podereis chegar a ter um sucesso na vida, mas sem amor, sem companheiros, sem pertença a um povo, sem aquela experiência tão bela que é arriscar em conjunto», afirmou Francisco, em Vilnius.

 

No encontro com jovens que decorreu na capital da Lituânia, o primeiro país dos três estados bálticos que visita até terça-feira, o papa pediu à juventude para «não ceder à tentação de se concentrar sobre si própria, olhando para o umbigo, à tentação de se tornar egoísta ou superficial diante das dores e das dificuldades, ou ao sucesso passageiro».

 

«Afirmemos mais uma vez que “o que acontece ao outro, acontece a mim”, andemos contracorrente em relação a este individualismo que isola, que nos faz tornar egocêntricos, que nos faz tornar vaidosos, apenas preocupados com a imagem e com o próprio bem-estar. Preocupados com a imagem, com como aparecer. É horrível a vida à frente do espelho, é horrível. Pelo contrário, é bela a vida com os outros, em família, com os amigos, com a luta do meu povo», frisou.

 

Os cristãos, prosseguiu Francisco, apontam para a «santidade», não através do fechamento, mas da abertura, «a partir do encontro e da comunhão com os outros, atentos às suas necessidades», porque a sua «verdadeira identidade pressupõe a pertença a um povo. Não existem identidades “de laboratório”» ou de «puro sangue», mas a «identidade do caminhar juntos, do lutar juntos, amar juntos».

 

É na «oração» que se aprende a «escutar o Espírito, a discernir os sinais dos tempos e a recuperar as forças para continuar a anunciar o Evangelho hoje», acentuou o papa, antes de perguntar: «De que outra maneira poderemos combater contra o desencorajamento face às dificuldades próprias e de outros, face aos horrores do mundo? Como faremos sem a oração para não acreditar que tudo depende de nós, que estamos sozinhos diante do corpo a corpo com a adversidade?».

 

«Jesus convida-nos a sair de nós próprios, a arriscar no cara a cara com os outros. É verdade que acreditar em Jesus implica muitas vezes dar um salto de fé no vazio, e isto mete medo. Outras vezes conduz-nos a metermo-nos em discussões, a sair dos nossos esquemas, e isto pode fazer-nos sofrer e tentar pelo desencorajamento. Mas sede corajosos», desafiou Francisco.

 

«Seguir Jesus é uma aventura apaixonante que enche a nossa vida de significado, que nos faz sentir parte de uma comunidade que nos encoraja, de uma comunidade que nos acompanha, que nos compromete no serviço. Queridos jovens, vale a pena seguir Cristo, vale a pena! Não tenhamos medo de participar na revolução a que Ele nos convida: a revolução da ternura», assinalou.

 

Para Francisco, «a coisa mais perigosa é confundir o caminho com um labirinto: esse andar às voltas no vazio através da vida, sobre si próprio, sem entrar na estrada que leva por diante». Por isso pediu: «Por favor, não sejais jovens do labirinto, do qual é difícil sair, mas jovens a caminho. Nada de labirinto: a caminho».

 

«Queria dizer-vos para não esquecerdes as raízes do vosso povo. Pensai no passado, falai com os velhos: não é aborrecido galar com os anciãos. Procurai os velhos e fazei com que eles vos contem as raízes do vosso povo, as alegrias, os sofrimentos, os valores. Assim, partindo das raízes, levareis por diante o vosso povo, a história do vosso povo para um fruto maior», concluiu o papa.

Subscrever Newsletter

Receba os artigos no seu e-mail