Deixa-te de máscaras!

Crónicas 6 março 2019  •  Tempo de Leitura: 2

Vivemos reféns do que não somos. Do que queremos parecer. Do que queremos dar a conhecer superficialmente. Do que nos convém deixar transparecer. Da imagem que precisamos que os outros vejam.

 

Parece-me que perdemos demasiado tempo a escolher máscaras. A máscara que fica bem com a pessoa com quem vou estar hoje. Esta pessoa pode conhecer-me (ou ver-me) até determinada medida. Aquela outra pessoa poderá ver-me um bocadinho melhor. Haverá, ainda, um grupo de pessoas que poderá ver muito pouco daquilo que julgo ser. Escolhe máscara. Tira máscara. Poisa máscara. Quando damos conta, já não sabemos muito bem se a pessoa que convive com os outros é a nossa versão verdadeira ou uma versão criada por conveniência.

 

Talvez seja tempo de deixar as máscaras só para o Carnaval ou para quando não temos nada melhor para fazer. A intenção de nos mascarar no dia-a-dia, para os outros, parece-me demasiado ridícula para ser verdade. E demasiado perigosa também.

 

Quem quiser, realmente, conhecer-nos vai gostar de nos ver de alma lavada. Sem sorrisos ou gestos ensaiados para agradar. Quem quiser ser do nosso lado da barricada vai apreciar a história que tivermos para contar (ainda que nem sempre seja bonita e ainda que nem sempre seja fácil). Quem quiser ver-nos vai gostar de olhar para o que formos de verdade. Sem disfarces. Sem pareceres. Sem máscaras. Sem histórias demasiado bonitas para ser de verdade.

 

Ainda bem que o Carnaval acaba hoje. Pode ser que também acabe o nosso tempo de nos escondermos na toca do que nunca fomos. Acredito que quem muito se esconde deixa de saber quem é, o que quer e para onde vai. E quando ficamos perdidos a ponto de não nos vermos para além das nossas máscaras, deixamos de ser de confiança. Para os outros e para nós.

 

Afinal, quem é que pode confiar naquele que escolhe andar sempre disfarçado?

 

Deixa-te de disfarces. Corações sem máscara podem ferir-se mas, pelo menos, nunca enganaram ninguém.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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