Ninguém (re)começa sozinho!

Crónicas 5 setembro 2018  •  Tempo de Leitura: 2

Somos feitos de recomeços. Claro que também há muitas coisas que terminam em nós e connosco e, inevitavelmente, também temos um currículo de fins a fazer fila dentro do coração. No entanto, os recomeços parecem inaugurar uma espécie de esperança que não se apaga, nem mesmo com o cair das noites.


Há, sem dúvida, uma magia naquilo que se começa. Naquilo que se promete depois de se ter feito um intervalo ou uma pausa. As férias servem também para catapultar as novidades que queremos fazer acontecer com a nossa vida e com aquilo que nos preenche os dias. Há promessas mais imediatas e mais práticas e há promessas mais profundas e mais reveladoras. Claro que as segundas serão, certamente, mais importantes mas o lugar das primeiras também não deve ficar comprometido ou esquecido.


Quando decidimos recomeçar há, imediatamente, qualquer coisa que se acende nos meandros das nossas vontades. É como se o conforto da mesmice desse lugar a um entusiasmo novo, por estrear. É como se nos permitíssemos descobrir outros desafios, outras motivações, outras coragens.


Há, no entanto, um perigo (ou vários!) quando ousamos (ou somos levados) a recomeçar. Motivam-nos as razões certas? Recomeçamos apenas porque sim ou porque descobrimos sentido naquilo que queremos renovar ou mudar? Carregamos as velhas mágoas na mochila ou conseguimos deixar para trás o que já não é deste tempo? Recomeçamos com alegria ou com a certeza triste de que daqui a dois meses estará tudo igual?


A resposta a estas perguntas pode fazer a diferença na forma de (re)começar. Pode levar a que se recomece de verdade ou, então, não.


Quem recomeça deve ter a coragem para dizer basta ao que bastou. Ao que acabou.


Quem recomeça deve sossegar. Abrir espaço para o que está para vir.


Quem recomeça deve respirar fundo e fechar os olhos, para ver melhor.


E, principalmente, quem recomeça deve fazê-lo acompanhado. Com os que nos aumentam os dias mesmo quando estes já não têm mais horas para durar.


Não te esqueças: recomeçar sozinho nunca foi caminho.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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