Entre o que eu digo e o que tu ouves… Cabe o mundo inteiro!

Crónicas 6 junho 2018  •  Tempo de Leitura: 2

É possível que a maior força que temos ao nosso dispor sejam as palavras. Claro que as palavras escritas têm impacto mas, e porque são pensadas e meditadas, não ultrapassam o eco das palavras ditas. Aquilo que dizemos no imediato, quando confrontados com uma situação boa ou má, pode ser um bálsamo ou uma cura ou pode, ainda, ser destruidor. Há qualquer coisa de automático e irrefletido naquilo que respondemos com recurso às palavras. E tudo o que é automático pode, sempre, correr mal. Ou falhar. Ou ficar aquém do que devia ter sido.


O outro problema relacionado com o mundo das palavras ditas é, sem dúvida, as possibilidades de interpretação. As dúvidas. O que é que o outro me quer dizer com aquilo que diz? Estará a dizer exatamente o que eu oiço ou o que diz pode ser apenas uma rampa para o que, no fundo, deseja que eu saiba?


Na verdade o que é dito não é apenas o que se quer dizer. Tal como o que é ouvido não é apenas o que se ouviu. Não conseguimos separar-nos dos nossos medos, vontades, desejos, fraquezas e dúvidas. Não conseguimos isolar as palavras dos outros e ouvi-las, apenas. O nosso problemaé que sentimos o que nos é dito. Recebemos o que nos dizem com tudo o que temos e somos. Assim, acabamos por correr um risco que leva, demasiadas vezes, a desentendimentos ou mal-entendidos. Juntamos o nosso mundo às palavras dos outros e distorcemo-las. Compreendemos mal. Interpretamos como nos convém.


Qual poderá ser o truque para dizer o que se quer e ouvir (como deve ser) o que nos foi dito?


Saltar o patamar do automático. Uma coisa é o que eu digo sem escolher e sem pensar. Outra coisa é o que eu faço com o que ouvi ou com o que disse. Algumas vezes, será melhor esquecer o que se disse ou o que se ouviu. Outras, valerá a pena conversar sobre o que se disse. Ou sobre o que já devia ter sido dito.


A comunicação, mais do que atirar palavras ao outro, é o que pode resolver tudo. Ou quase. Afinal, entre o que dizemos e o que ouvimos…cabe (mesmo!) o mundo inteiro.

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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