Num mundo de peixes, sê pássaro!

Crónicas 2 maio 2018  •  Tempo de Leitura: 2

O verdadeiro desafio que se impõe nos dias que correm é, precisamente, o de remar contra a maré. O de ser diferente e não ter medo disso. O de ousar levantar-se quando todos os outros teimam em permanecer sentados. O de ousar abrir os braços quando todos os outros os mantêm cruzados e fechados. O de ousar agradecer e bendizer o que a vida já deu quando todos os outros teimam em reclamar e fazer queixas. Convenhamos que não é (nem nunca foi) fácil ser diferente. É quase como se tivéssemos a obrigação de seguir a multidão só pela simples razão dessa multidão querer ir por aqui ou por ali.


As razões para querer ser ovelha são apenas duas:


Ou falta a coragem para furar o rebanho ou falta a consciência de que se faz parte de um rebanho. Felizmente, nenhuma das duas razões é irreversível. Se não sabes como seguir outro caminho, procura no mapa ou pergunta a alguém que tenha sido corajoso antes de ti. Se não te apercebeste ainda que és uma ovelha tão branca como as outras, fica atento. Se não te sentires capaz de pensar por ti e se preferes usar a tua voz para fazer eco das vozes alheias, então algo não está bem.


Falta-nos ser pássaros. Falta-nos ver as nossas penas com outros olhos. Falta-nos ver que as penas foram feitas para voar e não para lamentar.


Mas como é que eu posso ser pássaro se todos os outros são peixes? Como é que vou aparecer ao pé dos peixes com um par de asas?


Aparecendo. Os peixes não conseguem ver bem. Não conseguem respirar bem se os retirarem do fundo do mar. Vão atrás de quem vai à frente e não pensam muito nisso. Nadam muito mas voltam sempre ao mesmo sítio. Do fundo do mar não há vislumbre de luz. Sonha-se com ela, sim. Mas é só um sonho. No fundo do mar não há vislumbre de liberdade. Sonha-se com ela, sim. Mas é só um sonho.


Eu prefiro ser pássaro. Ainda que, ao descansar dos meus voos, conheça peixes que me digam que a minha loucura me vai magoar e doer.


Eu prefiro ser pássaro. Ainda que ao fim do dia me doam as asas de tanto voar.


Eu prefiro ser pássaro. E tu?!

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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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