Senhor,

Quanto melhor te conheço,

Mais me surpreendes,

Quanto mais me entrego,

Mais me dás

E mesmo quando resisto,

Não desistes

De vir ao meu encontro.

Porquê?

Que fiz eu para ter a graça

De ser habitada pela tua paz?

Porque esperas, pacientemente,

Enquanto me perco

Nos labirintos da minha inconstância?

Que tenho para oferecer

Ao Verbo que conjuga o meu viver?

De bênçãos cumulas o meu ser.

Sem nada te dar, estou sempre a receber.

Com um simples toque

Cicatrizas as minhas feridas,

Deixando em cada uma delas,

Uma lição aprendida.

Sacias a minha sede

Na tua fonte de água viva,

Lavas com misericórdia,

As sendas mal escolhidas,

E secas as minhas lágrimas

Com palavras que dão vida.

Como é bom poder experimentar

Como Elias, a tua presença

"No murmúrio de uma brisa suave (1Re 19, 12)!

Como é bom saber que sou

Apenas porque queres que eu seja!

Como é bom ser Raquel,

Ovelhinha de Deus,

E ter tão Bom Pastor,

Que me procura quando estou perdida!

Como é bom estar aqui contigo,

Silenciando o corrupio de vidas atarefadas

E de tempos mal geridos!

Ajuda-me, Senhor, a ver-me

Como tu me vês,

Com esse olhar enamorado de oleiro,

Que contempla o seu vaso criado.

Enche de luz as sombras

Que obscurecem o meu ser

E entorpecem o meu agir.

Alivia o meu fardo,

Quando já não for capaz de o suportar,

Mas não me prives da cruz

Que tiver que carregar.

Faz-me apenas companhia

E dá-me alento para continuar.

Reza-me, Senhor,

Porque eu não sei rezar,

Contempla-me,

Para que nos outros te saiba contemplar,

Abrasa-me,e

Para que não se extinga o meu fervor,

Salga-me, Senhor,

Para que eu não perca o sabor,

E ama-me

Até que o meu coração de pedra

Aprenda, finalmente, como tu, a amar.