A fé do treinador

Na conferência de imprensa da final do Euro 2016, Fernando Santos, o selecionador nacional de futebol, surpreendeu os jornalistas ao ler um texto antes de responder às suas questões. Esse texto foi escrito quando muitos criticavam a seleção e desconfiavam do seu sucesso. Nessa altura, todavia, ele continuava a acreditar e escreveu o discurso da vitória.
 
Nas suas primeiras palavras agradeceu a Deus a vitória. Refere todos os que contribuíram para ela e as pessoas que lhe são mais próximas. Termina a dedicar a vitória a Jesus Cristo e à sua Mãe e a agradecer-lhe por “ter sido convocado” e por lhe ter sido concedido “o dom da sabedoria, perseverança e humildade para guiar esta equipa e Ele a ter iluminado e guiado”.
 
É frequente muitos dos protagonistas do desporto rei terem gestos religiosos, como o sinal da cruz ao entrar em campo, e até agradecerem a Deus os seus sucessos. Contudo é muito raro ouvir-se testemunhar a fé com a clareza e a profundidade de Fernando Santos. As suas palavras não foram de circunstância, antes o resultado de uma vivência interior profunda que soube transmitir com verdade. Não foi pelo que disse, nem pela forma, mas pela sua autenticidade que recolheu os aplausos dos que assistiam.
 
Ficou também bem patente a sua leitura crente dos acontecimentos. Como crente, acredita que Deus lhe confiou a missão de conduzir a seleção nacional. Que não o abandonou, mesmo quando muitos dele desconfiavam. E, por isso, é com humildade que Fernando Santos recolhe o sucesso e o converte num voto de tom jesuítico: “Espero e desejo que seja para glória do Seu nome”. O lema proposto por S. Inácio de Loiola aos jesuítas é: “Ad maiorem Dei gloriam” (Para maior glória de Deus).
 
A Igreja Católica precisa de mais crentes que consigam dar testemunho da sua fé, desta forma autêntica e esclarecida, no púlpito dos meios de comunicação social.

[Texto publicado no Correio da Manhã de 15/07/2016]

Fernando Calado Rodrigues

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