Voluntariado com Diferentes

“Pois Deus amou tanto o mundo, que entregou o seu Filho único, para que todo o que n’Ele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Pois Deus não enviou o seu Filho ao mundo para julgar o mundo, mas para que o mundo tenha a vida eterna.” (Jo 3, 16-17)

Era este o Evangelho da Santíssima Trindade, que celebramos este fim-de-semana. Esta festividade mais do que um convite a decifrar este Deus Uno e Trino, é um convite a contemplar este Deus que é amor, que é família, que é comunidade. As três leituras falam-nos da clemência e da misericórdia de Deus. São um convite ao amor. A um amor que existe entre o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Deus ama-nos tanto, que enviou o seu próprio Filho, não para julgar e condenar, mas para dar vida e vida em abundância.

 

Todos os dias vemos o quão é difícil estabelecer esta comunhão entre as pessoas, entre os povos… São as guerras, os conflitos; o desemprego, a fome; as catástrofes naturais, as humanas…

 

Mas todos aspiram a uma vida de felicidade e sucesso; de realização pessoal e familiar… Todos queremos um bom emprego, uma boa casa, um bom carro; muitas viagens e excelentes férias… Talvez por querermos ter tudo isto é que essa comunidade de amor, essa vida em abundância, falhe…

 

Então, num mundo onde o ter prevalece sobre o ser, que dizer dos que não têm saúde para vencer? Refiro-me aos portadores de deficiências. Terão ocasião de sucesso? Poderão estes, testemunhar o Amor Divino? A Sua misericórdia?

 

Deixo-vos o testemunho de uma jovem professora, Marta Arrais, que faz voluntariado na Clínica Psiquiátrica de São José, em Telheira, Lisboa. Esta instituição pertence à congregação das Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus. Fundada por São Bento Menni, Maria Josefa Récio e Maria Angústias Gímenez a 31 de Maio de 1881 em Ciempozuelos, Madrid.

 

Desde a sua fundação que a congregação tem como um dos objetivos, o de proporcionar às pessoas acolhidas nas suas casas uma assistência e cudados de saúde, integrais.

 

Leiam esta vida abundante:

 

“As Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus dedicam as suas vidas ao serviço dos mais doentes, dos mais marginalizados, dos mais perdidos, dos que injustamente são rejeitados pelo mundo.

 

Às vezes rejeitados por cada um de nós, com a nossa indiferença, o nosso desconhecimento, o nosso baixar-de-olhos-para-não-ver.

 

As irmãs Hospitaleiras têm Casas por todo o país, e também por muitos outros lugares do mundo. Nessas Casas são acolhidas pessoas com deficiências ou com doença mental. Todos são tratados com o amor e a atenção que lhes é merecida, sempre. Incondicionalmente.

 

Conheci as irmãs hospitaleiras em 2007 quando fiz o meu primeiro Campo de Férias na Clínica Psiquiátrica de S. José, em Telheiras. Fui, com mais algumas jovens, dar um pouco do meu tempo para ajudar os doentes que estão ao cuidado das irmãs.

 

A primeira impressão foi dura, foi chocante, foi difícil. Sentia-me assoberbada por uma realidade desconhecida, por pessoas também desconhecidas. Muitas não falavam. Outras mantinham-se em posições estranhas, de acordo com o que o seu corpo permitia. No tempo que ali permaneci, ajudei as doentes mais limitadas a comer, a vestir-se. Cantei com elas, li-lhes histórias, fiz-lhes companhia.

 

As limitações do outro assustam-nos. E a mim assustaram-me também. Mas o que me fazia crescer água nos olhos era a minha impotência perante as dificuldades da vida daqueles com quem me fui encontrar. Pensei que não me seria possível, que não estaria ao meu alcance mudar a vida de quem já não tem esperança, de quem foi irremediavelmente encostado a um canto da vida. Enganei-me.

 

Não há vidas completas, mas todas as vidas são perfeitas por existirem, por terem algo a acrescentar às vidas que com elas se cruzam. Os doentes das Irmãs Hospitaleiras ensinaram-me a dar valor ao pequeno, aos detalhes que ninguém vê. Ensinaram-me o Amor. Ensinaram-me a querer ser sempre melhor e a dar sempre mais. Quando deixo a Casa das Irmãs, que regularmente visito, as doentes agradecem-me, abraçam-me, sorriem-me. Mas sou eu que, para sempre, lhes estarei agradecida.”

 

Insondáveis os caminhos do Senhor! Porque é eterno o Seu amor.

Paulo Victória

Cronista

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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