Sou diferente, e depois?!

Ser diferente é uma responsabilidade muito grande. Ser diferente dá muito trabalho. É muito difícil. Mais fácil é ser peixe confundido em cardume. Ser onda da mesma maré. Gomo da mesma laranja. É tão fácil ser mais uma carta do baralho que a simples ideia de permanecer incógnito no meio de uma multidão chega a atrair. A diferença faz pensar, faz querer ser melhor, faz lutar contra o rebanho que é o mundo. E a verdade é que somos verdadeiramente diferentes uns dos outros. Por vezes, as diferenças vivem dentro dos meandros das nossas emoções e ninguém as vê. As doenças das emoções e da mente são as mais duras de aceitar. Ninguém as vê mas sabemos que estão lá. Condicionam-nos. Fazem-nos sentir amputados. Fazem-nos nunca pertencer a lugar nenhum. Arrumamos o que achamos que os outros condenarão e fazemo-nos passar por ovelhas de um mesmo rebanho. Mas não somos. Somos pássaros com asas de lã de ovelha e quando nos virem voar vão perceber que, afinal, somos diferentes. Depois, temos as doenças do corpo. Algumas fazem-nos perder o cabelo, mudar de cor. Outras fazem-nos ficar presos a uma máquina durante aqueles que seriam os melhores anos da nossa vida. Outras mancham a nossa pele e semeiam nela cores ou cicatrizes que chamam a atenção. Todas as diferenças nos fazem viver a vida a olhar para baixo. Somos pouco. Somos menos. Vivemos iludidos. Vivemos reféns daquilo que achamos que é a normalidade, a banalidade. E queremos viver mergulhados num mar onde temos sempre pé. A vida não é nada disto. Vamos perder o pé algumas vezes. Engolir umas golfadas de água com sal e de ventos frios. Mas a minha avó sempre me disse que a água do mar era boa para curar feridas. Que venha ela. Ser diferente é bom. Ser diferente é o que nos define. O que nos faz apaixonar por aquela pessoa e não pela outra. Ser diferente é o que nos faz arriscar. Viver tudo hoje porque amanhã pode já não haver dia. Ser diferente é ser de Jesus. Que foi o mais diferente de todos e nem por isso deixou de ser o melhor. O único que arriscou ser diferente antes de todos os outros. Os outros quiseram continuar a ser banais. Iguaizinhos ao que sempre tinham sido. Conheces aquele senhor que é diferente dos outros todos? Não. Disseram eles. Conheço lá agora. Ser diferente custa muito. A Jesus custou-lhe a vida. E a ti, o que é que te custa ser diferente?!
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Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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