Que no próximo ano… Fique tudo na mesma!

Este ano os meus desejos são um pouco diferentes. Não me apetece sugerir mudanças, grandes planos, grandes sonhos ou grandes impossíveis. Este ano as minhas palavras são um pouco diferentes. Não me apetece escrever sobre as potenciais maravilhas que o ano novo deverá trazer ou fazer. Se, ainda assim, desejarem ler sobre as extraordinárias novidades que o novo ano traz nas mãos, não leiam este texto. O melhor, será que fiquem mesmo por aqui. Se, depois desta quase invisível bofetada, quiserem continuar a ler, eis o assunto desta crónica: que no próximo ano, fique tudo na mesma! Este ano, aquilo que mais quero, é que tudo fique na mesma. Exatamente como está. Que não mude absolutamente nada! Que cada um possa descobrir alegria (de trazer lágrimas aos olhos) com as coisas que já tem ou sempre teve. Que cada um queira ter exatamente o que já tem ou sempre teve. Que cada um deseje ver-se melhor, com mais nitidez, com mais calma, com mais luz e com mais verdade. Que fique tudo na mesma. Que o planeta não aqueça nem mais um bocadinho. Que não seja necessário comprar nem mais uma garrafa de oxigénio para quem vive na China. Que fique tudo na mesma. Que não arda mais nenhuma tonelada de lixo na lixeira de Maputo. Que fique tudo na mesma. Que mais ninguém tenha vergonha de ter uma doença que o limite física ou mentalmente. Que fique tudo na mesma. Que mais ninguém tenha que fugir da sua casa porque sente a guerra (e a dor) a morder-lhe os calcanhares até fazer sangue. Que fique tudo na mesma. Que mais ninguém seja olhado de lado (ou de cima!) por ter um rosto com traços que são seus. Não são de um povo nem de um grupo terrorista. São seus. Que cada pessoa possa ser cada pessoa sem ser rotulada, marcada, carimbada, referida, indicada, mencionada ou apontada como sendo parte de outra coisa qualquer. Que fique tudo na mesma. Que não haja mais nenhuma criança a brincar sozinha, porque no seu país não há crianças saudáveis o suficiente para brincar. Que fique tudo na mesma. Que cada um possa olhar para quem está perto. Por quem está perto. Que cada um possa ser o abraço que já soube ser, a festa que já soube fazer, a paz que já soube espalhar, a alegria que já soube acender. Que cada um possa ser aquilo que quiser e bem lhe apetecer. E que nunca queira nada que possa rasgar, ferir, magoar ou queimar aquele que está ao seu lado e que, exatamente por estar ao seu lado… é seu irmão.
 
Que nunca queiras nada que possa rasgar, ferir, magoar ou queimar aquele que está ao teu lado e que, exatamente por estar ao teu lado… é teu irmão.

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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