Nem sempre… Nem nunca…

Tudo é relativo!

 

Eu sou a medida do meu mundo!

 

Parece quase uma tirada poético-filosófica teoricamente inócua, mas a associação destas duas afirmações estão presentes um pouco por todo o lado, sendo que do humanismo original já quase nada guardam. O mito pós-modernista de um mundo feito à medida de cada um, que me faça sentir o mais forte, o mais alto, o mais belo, o mais sábio… e, acima de tudo, que não seja incómodo a ponto de me desafiar a mudar ou a ter de sair do comodismo para atingir ideais mais elevados, supõe obrigatoriamente que os valores, a religião, os compromissos, os relacionamentos, passem a ser estabelecidos em função do meu mundo, onde tudo é relativo e sobre o qual apenas eu mesmo posso opinar sem interferências externas. À medida que me vou desencantando, que me magoam, o meu mundo, qual carapaça protetora, fecha-se e torna-se ainda mais pequeno onde só eu posso caber…
 
A propósito do sínodo que terminou, só pode concluir que a montanha pariu um rato quem não consegue ver para além do relativismo do seu pequeno mundo, negando que há valores que são universais e não suscetíveis de serem relativizados, mesmo que em nome de uma suposta caridade baseada apenas na desculpabilização e na desresponsabilização.
 
Para seres finitos, sempre e nunca é demasiado tempo para ser racionalmente compreensível. Faz parte da condição humana a imperfeição de quem falha, mas fazer da exceção a regra, dado a frequência com que se erra, já não pode ser justificado apenas pela nossa condição. O medo de assumir um compromisso para sempre é real perante um futuro desconhecido. Mas decidir conscientemente não o assumir revela uma enorme desresponsabilização perante a vida que se deve construir… e não passa de uma permanente indecisão motivada, quiçá, pelo trauma de algumas relações que “tinham tudo para dar certo” mas não deram… O matrimónio cristão é um desafio para quem tem coragem de optar livremente assumir que há decisões que se renovam todos os dias. Quem se reduz à dimensão do seu cómodo mundo, onde acha que tem certezas sobre tudo, ainda não percebeu a beleza de arriscar no amor, confiando que, se por ventura se esgotam os limites pessoais, estará Deus testemunha desse amor a mantê-lo e a reavivá-lo.
 
A afirmação inequívoca dos valores da família e do matrimónio cristão não belisca em nada a caridade com que cada cristão deve acolher quem, pelos mais diversos motivos, não vive esse ideal proposto. A misericórdia é outra face da caridade.

Paulo V. Carvalho

Cronista.

Licenciado em Teologia. Pós Graduação em doutrina e ética social. Mestrado em Informática Educacional. Especialização em Educação Especial. Professor. Gosta de desafios.

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