Marta ou Maria?

Na crónica da semana passada não pretendi abordar a questão da importância da Oração e da Ação. Era-me mais premente a questão da nossa atitude, enquanto cristãos, perante as diferentes formas de caminhar na fé e de saber respeitar o ritmo diferente de cada um.  Infelizmente, muitas das vezes, aqueles que andam sempre com "o Credo na boca" são os que menos espaço dão àqueles que andam numa procura vocacional ou de razões para terem fé em Jesus Cristo.

 

No entanto, e agora que começa o novo ano pastoral, a problemática narrada no evangelho de Lucas entre Marta e Maria (Lc 10, 38-42) é urgente. O que é mais importante: o trabalho de Marta para receber bem Jesus ou a contemplação de Maria que se senta aos seus pés para o ouvir?

 

Para responder a estas questões é preciso situar esta narrativa. Ela é antecedida pelo "Novo Mandamento": amar a Deus com todo o coração e com toda a alma e o próximo como a si mesmo (Lc 10, 25-28) e pela parábola do Bom Samaritano (vv 29-37); depois dela e mudando de capítulo, segue-se a oração do Pai Nosso (Lc 11, 1-4). Daqui, facilmente se depreende que ambas são importantes e indissociáveis.
 
Quando Jesus diz a Marta que anda ocupada com muitas coisas e que Maria escolheu a melhor parte, não pretende que nos "sentemos à sombra da bananeira"! Adverte  a Marta  por andar a "confundir" o essencial com o supérfluo, ocupada com coisas de pouca importância. Não percebia que Ele veio para servir e não para ser servido.  No fundo, não percebia que Jesus tinha mais interesse na sua pessoa do que no seu serviço. Por isso é que a Maria tinha escolhido a melhor parte. Aproveitou para estar com a pessoa de Jesus. Toda a ação tem que partir deste encontro verdadeiro com o Senhor. O que não é nada fácil... Podemos cair, também num "espiritualismo" sem encarnação e encontro com o outro.
 
O excesso de ativismo pode correr o risco de se transformar num obstáculo para aqueles que querem atingir o âmago da Revelação cristã. Mas o desejo de interioridade, de espiritualidade e de oração de muitos, pode ficar-se apenas pelo "interior" faltando a relação efetiva e transformadora da vida.
 
Não se trata de "trabalhar menos e rezar mais", mas de alicerçar a fé na relação com Deus.

 

No encontro com os bispos, no passado dia 16, o Papa Francisco disse o mesmo com outras palavras: «Não se trata de atrair para si mesmo: isso é um perigo! O mundo está cansado de encantadores e mentirosos. E me permito dizer: de padres ‘da moda’ ou de bispos ‘da moda’». Estas palavras são válidas para todos os cristãos. Não só para os padres e bispos.
 
Toda e qualquer atividade tem que nascer da necessidade irresistível de um coração agarrado a Jesus e que pretende celebrá-lo, anunciá-lo e testemunhá-lo com a vida.

 

Boa semana.

Paulo Victória

Cronista

Licenciado em Teologia. Professor de EMRC. Adora fazer Voluntariado.

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