História de um encontro

Pegou em tudo aquilo de que precisava para passar uns dias fora dali, em retiro.
Na verdade, levava na mochila sobretudo cansaço e vontade de silêncio. Cansaço da rotina, do trabalho (que ficou a acumular na secretária), de casa e dos ritmos de cada um. Cansaço das exigências, dos pedidos, das respostas.
Depois de lá ter chegado e de ter mergulhado no silêncio, passeou pela sua vida enquanto olhava o mar e a serra, organizou os pensamentos, leu a Bíblia e procurou ter atenção aos gestos e atitudes de Jesus. Queria conhecê-lo melhor, fazer experiência de amizade com Ele. Cada dia era uma descoberta mais profunda de quem era, de quem Ele era, e da sua relação. Via mais claro, e aproximava-se do essencial.
 
Na última noite ali, subiu ao terraço e maravilhou-se com o céu estrelado. As estrelas brilhavam tanto e não corria uma brisa. Tudo estava silencioso. Tão bonito o céu e tão próximo ao mesmo tempo.
De repente, olhou para o telhado da capela, que descreveu como uma rampa a caminho daquele céu estrelado, e viu uma figura ali sentada a olhar o céu.
Quem seria, pensou?
De repente sentiu um desejo enorme de ir para ali! Ardia-lhe o coração!
Mas que pensariam os outros se vissem aquilo?
Hesitou. Tinha que saltar um pequeno portão, o telhado não tinha vedação à volta e estava escuro. A única luz vinha das estrelas.
E a figura continuava ali sentada.
Que perderia se não fosse? Mas e se alguém me vê aqui e se preocupa?, pensou. De repente a cabeça estava a mil!
 
Tinha medo mas seguiu em frente, passou por cima do pequeno portão, e caminhou sem ver bem onde punha os pés.
Ia alegre! E quase a chegar junto da figura ali sentada, sentiu no coração: Medo de quê? Vou ter com o Senhor do Universo!
Sentou-se ao lado d'Ele, com o coração a explodir de alegria e amor. Ficou em silêncio durante um tempo a absorver a companhia. Depois começou a falar-Lhe de tudo. De tudo mesmo. Do que Lhe custa, das feridas que traz, dos medos que tem, daquilo pelo qual mais anseia, dos seus sonhos. Falou-Lhe daqueles que ama. Ele ouviu calmamente. Rezaram em conjunto o terço e ficaram ali a olhar as estrelas. Como naquele céu, e ao lado d'Ele, estivesse tudo aquilo de que precisava, tudo aquilo de que andava à procura e de que tantas vezes se afastava.
 
Contou-me este encontro que agora partilho. Tão bonito.
Deixou-me a pensar que posso fazer este encontro já hoje, porque Ele está sempre à espera que me sente a conversar com Ele. 
E eu quero estar sempre a caminho, naquela rampa que conduz ao céu. 

Rita Sacramento Monteiro

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