É daqui a 3 semanas.
Preparo a ordenação sacerdotal. É daqui a 3 semanas. E vivo uma felicidade difícil de explicar. Ao mesmo tempo, sinto o cansaço de final de ano de estudo, trabalho e saudades de Portugal. Daí a mistura de sentimentos. Digo que a cabeça e o coração já estão aí, mas o corpo ainda está aqui em Paris. Algo grande vai acontecer na minha vida. Não só para mim, mas também para todos a quem sou chamado a servir. Nem a escrita me sai como gostaria. Se pudesse, transformaria todas as palavras em gestos, em movimentos mais ou menos coreografados.
Haveria silêncios, ficando no aqui e agora sem projecção ao futuro. Haveria também movimentos rápidos e lentos, a partir do centro, da anca, como forma de buscar o centro de gravidade, onde se concentra todo o recebido por tanta gente e situações. Haveria escuta da música, deixando o som ser a voz de Deus que vai empurrando. Transformaria essa dança em oração, ao modo do Salmo 150, louvando a Deus pelas maravilhas que vai fazendo a quem vai perdendo o medo de dançar com Ele. Ao jeito de “Magnificat”, lançaria-me para diante, como forma de dizer: “porque pôs o olhos na humildade do seu servo”. Haveria movimentos muitos subtis, quase imperceptíveis, deixando que o pouco, o pequeno, também seja espaço de serviço e entrega. Haveria desequilíbrios, eventuais quedas: o engano também é potencialidade… de reconhecimento da fragilidade, da sempre possível falha, ou do pecado. Haveria uma respiração estável, serena, deixando que o “mar calmo” do interior mantenha o caminho a seguir.
Sim, o Espírito pairava sobre as águas… e ao longo do tempo, Deus foi ordenando, criando. Nestes anos, deu-se criação na minha vida, agora vem o passo em que serei chamado a co-criar a Vida na vida das pessoas que me são confiadas. Isto é grande. E sou feliz, porque em Jesus, Ele, sim, o Eterno Sacerdote, permito que a dança de louvor, de acção de graças, faça ainda mais sentido.
[Foto: Kirk Carter]