As estrelas não se podem prender!

Quem vê uma estrela pode querer guardá-la. Quem vê uma estrela, mesmo que ao longe, deixa nascer em si um desejo com cara de criança. Quem vê uma estrela, esteja ela onde estiver, tem a tentação brilhante de querer segurá-la para sempre. Quem vê uma estrela, dormindo inocente na sua caminha de céu, pode sentir uma vontade extraordinária de a raptar. Somos apaixonados pela luz. No entanto, e porque a vida nos obriga a crescer, deixamos de ter medo de adormecer sem ela e fazemos as pazes com o escuro. Habituámo-nos, porque assim nos parece melhor, a fazer coisas às cegas. Por isso, e até mesmo com as luzes todas apagadas, conseguimos continuar a viver. Não é o mesmo. Viver com a luz apagada ou com uma luz presa numa gaiola, não é o mesmo que viver com luz. Quem vê uma estrela nunca mais sossega. Quem vê uma estrela de verdade nunca mais se contenta com a lembrança ou a memória de uma estrela a fingir. Na verdade, eu já vi um ou outro par dessas estrelas verdadeiras. Outras escaparam-se-me à vista e ao olhar porque, com certeza, terão passado naquele momento em que os meus olhos se fecharam. Naquele segundinho em que os olhos piscam, indecisos entre a luz e o escuro, é provável que tenham passado mais estrelas por mim. Não as vi. Ninguém gosta de se lembrar dos momentos em que tem os olhos fechados e julgo que, por vezes, passamos tempo demais assim. Temos medo de abrir os olhos e já não encontrar a luz; e já não encontrar aquela estrela que só fervia luz porque era nossa. Tantos erros, os nossos. Ninguém vê uma estrela se tiver os olhos fechados. Agora, o que não pode é ter medo do escuro onde as estrelas se deitam. O escuro e a luz estão de mãos dadas. Sempre. Quem não sabe isso é porque cresceu demais. E ninguém pode crescer a ponto de se esquecer do que é realmente essencial. O essencial não se vê porque anda de mãos dadas com o escuro. O essencial não é a luz toda. É ver luz apesar de todos os escuros.

 

Estou muito cansada de ver que prendemos estrelas dentro de gaiolas frias e pequeninas…

 

As estrelas são de brilhar, não são de escurecer! As estrelas são de voar, não são de prender!

 

Depois de se abrirem todas as gaiolas que prendem estrelas, haverá alguém que ainda ouse viver sem luz?!

 

Marta Arrais

Cronista

Nasceu em 1986. Possui mestrado em ensino de Inglês e Espanhol (FCSH-UNL). É professora. Faz diversas atividades de cariz voluntário com as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus e com os Irmãos de S. João de Deus (em Portugal, Espanha e, mais recentemente, em Moçambique)

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