Acho piada quando as pessoas me dizem que sou normal.
Acho piada quando as pessoas me dizem que sou normal. Normalmente são pessoas que formulam a tal “normalidade” depois de umas quantas frases trocadas, eventualmente num jantar, num café, numa festa ou algo similar. Nada de especial com isto, não fosse o “isto” de ser jesuíta e daqui a poucos dias vir a ser padre.
De vez em quando lá me pergunto: o que é isto da normalidade? Sim, cumprir normas, estar estabelecido num determinado padrão. O que descansa bastante. O raro, o esquisito e o diferente por vezes causa medo e desconforto. Ou, então, simplesmente abre portas de histórias passadas que levam à última imagem que se ficou de algum acontecimento menos simpático. A normalidade é o decorrente do conforto. No entanto, o desafio está em conhecer algo ou alguém que não cumpre todos os padrões estabelecidos, mesmo aqueles de uma sociedade dita “aberta” e que tudo aceita. O trabalho da “abertura”, por outras palavras, da liberdade, passa mesmo pelo acolhimento, pela escuta da outra pessoa que sai da “normalidade”, sendo, curiosamente, “normal”.
É uma confusão. Talvez... É que isto de vir a ser padre e ser considerado uma pessoa normal é mesmo isso, confuso. Tenho-me apercebido que quando sou apresentado desde início como jesuíta, grande parte das vezes há reacções, sobretudo faciais, do género: “Ui, cuidado com este!”, como se a minha fisionomia mudasse e todo eu me tornasse um inquisidor da “moralidade e bons costumes”. Oh, não... eu sou normal. Se aparecesse um inquisidor na minha vida, Oops, era eu que estava feito. Ehehe!! O que me vale é que o Senhor que admiro e me fascina ensinou isso mesmo: acolher, acolher e acolher, para além da etiqueta da normalidade. Sei, por experiência própria, que o acolhimento pode ajudar a abrir horizontes... até mesmo da fé. O que é isso da fé? É mais normal do que se pensa... mas isso fica para outra conversa.
[Imagem: Michael Maher]