Acho piada quando as pessoas me dizem que sou normal.

Acho piada quando as pessoas me dizem que sou normal. Normalmente são pessoas que formulam a tal “normalidade” depois de umas quantas frases trocadas, eventualmente num jantar, num café, numa festa ou algo similar. Nada de especial com isto, não fosse o “isto” de ser jesuíta e daqui a poucos dias vir a ser padre.
 
De vez em quando lá me pergunto: o que é isto da normalidade? Sim, cumprir normas, estar estabelecido num determinado padrão. O que descansa bastante. O raro, o esquisito e o diferente por vezes causa medo e desconforto. Ou, então, simplesmente abre portas de histórias passadas que levam à última imagem que se ficou de algum acontecimento menos simpático. A normalidade é o decorrente do conforto. No entanto, o desafio está em conhecer algo ou alguém que não cumpre todos os padrões estabelecidos, mesmo aqueles de uma sociedade dita “aberta” e que tudo aceita. O trabalho da “abertura”, por outras palavras, da liberdade, passa mesmo pelo acolhimento, pela escuta da outra pessoa que sai da “normalidade”, sendo, curiosamente, “normal”.
 
É uma confusão. Talvez... É que isto de vir a ser padre e ser considerado uma pessoa normal é mesmo isso, confuso. Tenho-me apercebido que quando sou apresentado desde início como jesuíta, grande parte das vezes há reacções, sobretudo faciais, do género: “Ui, cuidado com este!”, como se a minha fisionomia mudasse e todo eu me tornasse um inquisidor da “moralidade e bons costumes”. Oh, não... eu sou normal. Se aparecesse um inquisidor na minha vida, Oops, era eu que estava feito. Ehehe!! O que me vale é que o Senhor que admiro e me fascina ensinou isso mesmo: acolher, acolher e acolher, para além da etiqueta da normalidade. Sei, por experiência própria, que o acolhimento pode ajudar a abrir horizontes... até mesmo da fé. O que é isso da fé? É mais normal do que se pensa... mas isso fica para outra conversa. 

 

[Imagem: Michael Maher]

Paulo Duarte, sj

Cronista

É em caminho. Nesses passos vai procurando e encontrando o Ser Humano. Às vezes perde-se. Tem dificuldade com as definições, pelo perigo de poderem ser demasiado redutoras. Já como jesuíta, licenciou-se em Filosofia (Braga) e em Teologia (Madrid), foi professor e começou a ter aulas de dança (mais em linha contemporânea). Continua em estudos (será que algum dia deixará de aprender?), mais precisamente no mestrado em Teologia Fundamental (Paris). Tem interesse no diálogo, mais precisamente entre a fé e a cultura e que as pessoas sejam. A partir de Julho 2014, além de tentar ser um bom diácono, tentará ser um bom padre. 

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