Um poema chamado Maria

No princípio dos tempos Deus criou os céus e a terra, e depois o homem e a mulher à sua imagem e semelhança. Ofereceu-lhes o jardim do Éden com tudo o que encerra, e por amor em Adão e Eva pôs toda a sua esperança. Podendo eles saciar-se de todas as árvores do jardim, deixaram-se seduzir pela astúcia de uma serpente. E a comer da árvore proibida disseram que sim, e em liberdade desobedeceram ao Criador omnipotente.
 
Deus entre a mulher e a serpente fez reinar inimizade, assim como hostilidade entre os seus descendentes. O bem esmagaria a cabeça do mal da humanidade, e Eva seria a mãe de todos os homens viventes. O Senhor Deus na linhagem da mulher acreditará, e pelo profeta Isaías um sinal seria anunciado. A jovem concebeu e à luz um filho dará, e o nome de Emanuel ser-lhe-á dado. O povo de Israel esperava a vinda do redentor Messias, e Miqueias falara da parturiente que daria à luz. Da Filha de Sião e da Esposa de Javé havia profecias, e muitos viram nelas a figura de Maria a mãe de Jesus.
 
E foi assim: Estava Maria em Nazaré na sua casa a rezar, quando um anjo enviado por Deus lhe apareceu. Chamava-se Gabriel e para ela começou a falar, e a jovem logo se perturbou e estremeceu. O anjo saudou-a dizendo-lhe que não tivesse medo: ‘Salvé, ó cheia de graça, o Senhor está contigo’. Trazia-lhe dos céus um convite em segredo, e confortou-a pois a graça de Deus estava consigo.
 
Disse-lhe que um filho especial conceberia no seu seio, Ele seria grande e dar-lhe-ia o nome de Jesus. O Filho do Altíssimo encarnaria no nosso meio, e seria para os homens salvação e luz. Tinha dúvidas e era grande o seu espanto: Como seria aquilo se nenhum homem conhecia? Mas sobre si viria a força do Espírito Santo, e da sua sombra o Filho de Deus nasceria. Maria comunicou-lhe então o seu sincero Sim, ao plano grandioso do Deus redentor. E disse-lhe: ‘A tua palavra se faça em mim, e acrescentou ‘Eis aqui a serva do Senhor’.
 
Depois, Maria decidiu a toda a pressa pôr-se a caminho, pela montanha para a terra da sua prima Isabel. Dela lhe falara misteriosamente o anjo Gabriel, e queria estar consigo por amizade e carinho. Quando Isabel ouviu a saudação de Maria, algo de muito estranho e especial lhe aconteceu. Naquele momento o Espírito Santo a encheu, e no seu seio o menino saltou de alegria.
 
Isabel ergueu a voz e disse com emoção, que a mãe do seu Senhor lhe fazia uma visita, entre todas as mulheres Maria era bendita, e bendito era o fruto do seu ventre em geração. Maria sentiu-se muito feliz e então cantou: ‘A minha alma glorifica o Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador’, pois em tudo quanto que lhe foi dito acreditou. Na sua humildade pôs os olhos o Deus amoroso, pois escolheu-a como serva e mãe amada. Todas as gerações a chamarão bem-aventurada, pois em si fez maravilhas o Todo-Poderoso.
 
Por amor Maria e José tinham decidido casar, mas ela ficara grávida antes de com ele habitar. Pelo poder do Espírito Santo ela tinha concebido, mas o seu noivo tal não tinha ainda entendido. José era um homem bom e temente a Deus, e seguia a tradição e as leis dos judeus. Como era justo e não queria a Maria difamar, secretamente resolveu a sua noiva deixar. Andando angustiado a pensar nisto noite e dia, José não percebia bem o que acontecera a Maria. Então apareceu-lhe em sonhos o anjo do Senhor, que o acalmou da sua grande tristeza e temor.
A Maria como mulher com amor devia acolher, pois era obra do Espírito Santo quem ia nascer. O nome de Jesus àquele filho deveria ser dado, pois Ele vinha salvar o povo do seu pecado. José percebeu então a sua nobre missão e papel, acolhendo o Deus connosco chamado Emanuel. O plano e projeto misterioso do Altíssimo entendeu, e como esposa e mãe a Maria afetuosamente recebeu.
 
Saíra naqueles dias um édito de recenseamento, da parte de César Augusto o imperador, para Roma de toda a terra ter conhecimento, exigindo a todos obediência respeito e rigor. José e Maria grávida deixaram a cidade de Nazaré, e sendo ele da casa de David foram para Belém, numa difícil viagem invernal num burrinho e a pé, e com a iminência de Maria dar à luz e ser mãe. Quando em Belém finalmente já se encontravam, procuraram casa para ficar naqueles dias José e Maria. Cansados e esfomeados da viagem quase desesperavam, pois não havia lugar para eles na hospedaria.
 
Completando-se então os dias de Maria dar à luz, naquela noite fria o seu filho primogénito nasceu. Numa manjedoura de um estábulo recostou Jesus, e com ternura para não ter frio em panos o envolveu. Eis que dos céus a plenitude do tempo chegara, pois Deus enviara por amor o seu Filho à humanidade. Nascido de uma mulher e sujeito à lei o Verbo encarnara, para a todos resgatar do pecado rumo à eternidade.
 
Então quando alguns pastores descansados pernoitavam, um anjo do Senhor nos campos lhes apareceu. À sua volta a glória de Deus resplandeceu, enquanto os seus rebanhos guardavam. O anjo disse àqueles homens que não temessem, pois na cidade de David tinha nascido um Salvador, que era para todos os homens o Messias Senhor, e que o anúncio da alegre notícia recebessem. Um menino em panos numa manjedoura seria o sinal, e ‘Glória a Deus nas alturas’ alegres cantaram. ‘Paz na terra aos homens do seu agrado’ entoaram, aqueles que junto ao anjo eram uma multidão celestial.
 
Foram logo a Belém ver o que tinha acontecido, e encontraram Maria, José e o menino deitado. Deram a conhecer o que lhes havia sido anunciado, e viram que tudo o que lhes disseram fazia sentido. Todos se admiravam com o que diziam os pastores, e Maria conservava aquelas coisas com emoção. Ela ponderava-as profundamente em seu coração, e os pastores glorificavam a Deus com louvores.
 
Depois, chegaram a Jerusalém uns magos do Oriente, que para adorar o menino, inquiriam toda a gente. Procuravam o recém-nascido rei dos judeus, tornando-se de uma estrela seguidores seus. Com a vinda dos magos o rei Herodes ficou perturbado, e aquela notícia deixou-o muito inquieto e preocupado. Decidiu questionar o povo sobre onde nasceria o Messias, e responderam-lhe que em Belém segundo as profecias. Então ele mandou chamar os magos secretamente, pois queria saber do menino nascido recentemente. Pediu-lhes informações sobre a sua viagem, dizendo que também iria a Belém fazer homenagem.
 
Seguindo a estrela os magos puseram-se a caminho, e algum tempo depois sentiram muita alegria e carinho. A estrela parou no lugar especial por que tanto ansiaram, e ali o menino Jesus com Maria sua mãe encontraram. Diante do menino se prostraram em adoração, e ofereceram-lhe valiosos presentes com emoção. E avisados em sonhos a Herodes não quiseram voltar, tendo decidido por outro caminho a casa regressar.
 
Apareceu em sonhos a José o anjo do Senhor, que lhe pediu para o menino e sua mãe tomar. Tinha que fugir para o Egipto até ele o avisar, pois a morte de Jesus procurava o governador. À pressa levantou-se de noite e chamou Maria, e tomou o menino e sua mãe com zelo e ternura. Partiram para o Egipto numa difícil aventura, para se dar cumprimento a uma antiga profecia. O rei Herodes pelos magos sentiu-se enganado, e decidiu realizar dos atos mais cruéis e desumanos. Mandou matar todos os meninos com menos de dois anos, numa vingança terrível sobre crianças inocentes, o desgraçado.
 
Passados uns tempos o rei Herodes morreu, e o anjo do Senhor apareceu a José em sonhos. Tinham passado os tempos mais medonhos, e para a terra de Israel a viagem empreendeu. Com o menino e sua mãe José ia regressar, procurando evitar por receio a Judeia. E foi em Nazaré na região da Galileia, que cumprindo as profecias decidiram morar.
 
Quando se cumpriu o tempo da purificação, José e Maria foram apresentar o primogénito ao Senhor. Para oferecer um sacrifício e fazer a consagração, levaram-no ao templo de Jerusalém com amor. Estava no templo um homem chamado Simeão, que desejava estar com o Messias antes de morrer. Ao ver o Menino pegou-o nos braços com emoção, e bendisse a Deus pois viu a Salvação a florescer. O pai e a mãe de Jesus estavam muito admirados, com tudo o que lhes diziam do seu pequenino. José e Maria foram então pelo ancião abençoados, pois a luz das nações e a glória de Israel eram o menino.
 
Simeão que era justo e piedoso dirigiu-se a Maria, e falou do menino como sinal de contradição: Uma espada a alma daquela mãe trespassaria, o que era do Espírito Santo uma misteriosa revelação. Uma profetisa chamada Ana ali estava também, louvando a Deus e falando no mesmo sentido. Depois José, Maria e Jesus deixaram Jerusalém, pois todos os rituais da Lei já tinham cumprido.
 
Para que os costumes e rituais judaicos vivessem bem, pela Páscoa José e Maria iam sempre a Jerusalém. E quando o adolescente Jesus os doze anos alcançou, levaram-no à festa pois a adulto na lei judaica chegou. Terminadas as celebrações e quando a casa regressavam, com nenhum parente ou conhecido a Jesus encontravam. Em Jerusalém ter-se-ia perdido nalguma aventura, e José e Maria decidiram voltar lá à sua procura. Encontraram-no no templo, entre os doutores, sentado, a questioná-los e a ouvi-los, muito interessado. Com eles dialogava com sabedoria e eloquência, deixando a todos estupefactos com a sua inteligência.
 
Assombrados José e Maria o filho questionaram, pois durante três dias angustiados o procuraram. Respondeu-lhes que não tinham que o estar a procurar, pois deviam saber que na casa do seu Pai devia estar. Aquelas palavras os pais de Jesus não compreenderam, mas para Nazaré como família feliz desceram. Jesus devia aos seus pais amor, respeito e submissão, e Maria guardava todas aquelas coisas no seu coração.
 
Maria acompanhou sempre Jesus já adulto na sua missão, sendo a primeira discípula do seu Senhor. Tudo meditava e guardava no seu coração, e pelo Evangelho a Jesus seguia com amor. Um dia enquanto Jesus de seu Pai falava, uma mulher levantou a voz no meio da multidão. As entranhas que o trouxeram felicitava e elogiava, e dos seios que o amamentaram fazia menção. Jesus preferia chamar de bem-aventurado, quem a Palavra de Deus escutava e praticava. Não queria destacar a mãe que o tinha gerado, nem sequer o vínculo de sangue que os ligava.
 
Falava Jesus a outras pessoas noutro dia, quando os discípulos o mandaram chamar. Tinham chegado sua mãe e irmãos com alegria, e queriam naquela ocasião consigo falar. Quem eram sua mãe e seus irmãos perguntou, e olhou para aqueles que eram amigos seus. Eles seriam a sua mãe e seus irmãos declarou, se fizessem sempre a vontade de Deus.
 
Noutra altura em Caná da Galileia realizava-se um casamento, e Jesus, a sua mãe e os discípulos foram convidados. A falta de vinho estava a deixar os noivos incomodados, e Maria falou ao filho daquele lamentável acontecimento. Chamando enigmaticamente à sua mãe ‘Mulher’, disse-lhe que não devia estar com aquilo preocupada. Para Jesus a sua hora ainda não era chegada, mas Maria disse aos serventes: ‘fazei o que Ele vos disser’. Sensível ao pedido da sua mãe com certeza, Jesus começou naquela boda a fazer maravilhas, pediu para encher de água até cima seis vasilhas, e mandou levá-las de seguida ao chefe de mesa.
 
Quando a água transformada em vinho ele provou, logo mandou chamar o noivo com admiração, pois servir o pior vinho no final era a tradição, e ele até àquele momento o melhor vinho guardou. Foi ali pois naquela especial união matrimonial, a que Maria foi com seu filho em Caná da Galileia, que Jesus mostrou o seu poder e miraculosa veia, manifestando a sua glória com o seu primeiro sinal.
 
Passados uns tempos chegado o momento supremo da sua missão, o Messias foi condenado à morte por crucifixão. Para o Calvário levou às costas a própria cruz, e crucificaram mais dois homens ao lado de Jesus. Puseram um letreiro na cruz do Filho de Deus, que dizia: ‘Jesus Nazareno, Rei dos Judeus’. Os soldados as vestes de Jesus entre si partilharam, e cumprindo-se as Escrituras a sua túnica sortearam. No momento da sua morte e chegada a sua hora, quase todos os seus amigos se tinham ido embora. Com ele junto à cruz, poucas pessoas se encontravam, e somente a mãe, duas mulheres e João ali restavam.
 
Ao ver ali de pé a sua mãe e o amado discípulo João, e estando tudo quase consumado sentiu comoção. ‘Eis o teu filho’ e ‘Eis a tua mãe’ foi o desejo seu, e desde aquela hora João em sua casa a Maria acolheu. Depois Jesus inclinou a cabeça e o seu espírito entregou, e a morte do seu filho Maria em silêncio chorou. Desde o nascimento até ao último suspiro da sua vida, permaneceu aquela que era de Jesus muito querida.
 
Após a morte e ressurreição de Jesus ter acontecido, Ele apareceu aos apóstolos e a outras pessoas também. Pediu-lhes que esperassem o Espírito Santo prometido, e ordenou-lhes que não se afastassem de Jerusalém. Jesus de Nazaré as suas vidas tinha transformado, mas com a sua morte sentiam um medo profundo. Contudo o Espírito Santo ia ser-lhes enviado, e seriam suas testemunhas até aos confins do mundo. Os apóstolos juntavam-se numa casa habitualmente, e com Maria e outras mulheres ficavam reunidos. Entregavam-se com ela à oração assiduamente, e pelo mesmo sentimento de fé permaneciam unidos.
 
E eis que o esperado dia de Pentecostes chegou, e Maria e os demais estavam reunidos naquele lugar. Um som comparável a forte rajada de vento ressoou, e o Paráclito com os seus dons todos quis cumular. Umas línguas à maneira de fogo sobre eles pousaram, e todos ficaram cheios do prometido Espírito Santo. E inspirados a falar outras línguas começaram, causando a todos em Jerusalém assombro e espanto.
 
Depois, quando terminava a vida terrena da Virgem Imaculada, em corpo e alma ao céu por Deus foi elevada, para se conformar com o seu Filho mais plenamente, que venceu o pecado e a morte como Senhor omnipotente. Preservada e imune de mancha da culpa original, obteve do Senhor dos Senhores essa graça especial. Mereceu participar singularmente na sua ressurreição, e como rainha recebeu de Deus a exaltação. Ela é antecipação da ressurreição dos cristãos, todos membros do Corpo de Cristo seus irmãos. A sua glorificação é para a Igreja sinal de esperança, pois nela, vê já a desejada e ansiada bem-aventurança.
 
Deus conformou no seu Filho aqueles que predestinou, e a esses chamou, justificou e também glorificou. A nossa cidade está nos céus onde está Cristo poderoso, que transfigurará o nosso corpo pelo seu corpo glorioso. A Igreja na sua peregrinação contempla com alegria, a Assunção da bem-aventurada Virgem Maria. Nela viu aquilo que na eternidade deseja e espera ser, e a dignidade humana a que somos chamados a viver.
 
E teve lugar uma revelação: No céu apareceu um sinal grandioso, a imagem de uma Mulher vestida de sol se apresentava. Uma lua nos pés e uma coroa de doze estrelas ostentava, e estando grávida gritava por causa dum parto doloroso. Apareceu também no céu outro apocalíptico sinal: Com sete cabeças e dez chifres surgiu um grande dragão. Diante da Mulher queria devorar-lhe o filho varão, mas quando nasceu foi arrebatado daquele grande mal. Uma grande, cruel e terrível batalha no céu se travou, e os anjos do dragão e de Miguel ferozmente guerrearam. E derrotados o dragão e os seus na terra se precipitaram, mas em perseguição da Mulher e do Menino ele se lançou.
 
À Mulher duas asas foram dadas para se refugiar, mas o dragão furioso insistiu na sua maledicência. Decidiu guerrear contra o resto da sua descendência, aqueles que o testemunho de Jesus desejam guardar. A tradição viu na Mulher a Virgem Maria, que na história, como mãe da Igreja, continua a sua singular missão. Combate com o Filho que com a sua morte e ressurreição, destruiu as forças do mal e nos obtém a graça da vitória.
 
A morte veio por Eva e pela Virgem Maria a Vida, e o que a primeira atou com a sua incredulidade foi desatado por Maria pela sua fé e fidelidade, ficando por um vínculo indissolúvel ao Filho unida. Para poder vir a ser a Mãe de Jesus o Salvador, e ser capaz de abraçar essa sublime vocação, Maria foi adornada por Deus o Senhor, com dons dignos de uma tão grande missão. Deus preparou para o Filho uma digna morada, e a Conceição de Maria realizou perfeitamente. Cumulou de bens a Maria fazendo-a Imaculada, por graça e favor singular do Omnipotente.

Que Maria de Nazaré, rainha, mãe de misericórdia, vida, doçura e esperança nossa, nos salve e volte para nós os seus olhos, mostrando-nos Jesus, bendito fruto do seu ventre. Que a santa Mãe de Deus e mãe nossa, rogue por nós pecadores, agora e na hora da nossa morte, para que sejamos dignos das promessas de Cristo.

Paulo Costa

Conto.

O Paulo Costa é licenciado em Teologia e mestrado em Teologia Sistemática pela Faculdade de Teologia da UCP do Porto e tem uma Pós-graduação/Especialização em Educação Sexual pelo Instituto Piaget. É autor de alguns livros na área da Fé e Adolescência. É professor de EMRC no Colégio Liceal de Santa Maria de Lamas. É um bloguer.

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