Ensino as filhas e netos a jogar, para poderem ganhar e ser bons jogadores

A poeta diria que ser pai é ser mais alto, é ser maior. Sou bastante alto para a média dos portugueses e os desenhos e poemas das minhas filhas, ao longo dos anos, dizem-me que sou o maior, o Sol. A minha perspectiva de ser pai é, em primeiro lugar, a das minhas filhas. Vou mais além.
 
Certo dia, a minha mãe disse-me que quando eu afirmasse que estava a falar verdade, acreditaria em mim contra todo o mundo. Também me disse que, ainda que eu matasse alguém, ela não me abandonaria, nunca. A minha mãe ensinou-me a identificar o bem e o mal e a distingui-los, explicando-me as consequências do fazer o bem e do fazer o mal e deixou a escolha ao meu critério. Confio ter passado às minhas filhas a pedagogia explícita que recebi da minha mãe. Pai e mãe não são tão diferentes assim. Não na essência da maternidade e da paternidade. Claro que uso barba e bigode e não uso soutien, mas isso são detalhes, pois Deus criou-os à sua imagem e semelhança e à sua imagem os criou homem e mulher.
 
Tal como os meus pais fizeram em relação a mim e aos outros miúdos, procurei não tomar a priori o partido das minhas filhas nas disputas com outras crianças (ou adultos). Procurei que percebessem que a justiça é o único ambiente em que o amor se revela.
 
Vivemos o crescimento das nossas filhas, virados para fora. Valorizámos os passeios em família, as jogatanas noite fora, as festas de família. Todos os dias tínhamos algo para celebrar entre nós. Mas isso não nos enchia. Precisávamos de alcançar sempre mais longe, lá para fora, partilhar o amor que vivíamos dentro do lar, a nossa oração de louvor a Deus. Dando-nos aos outros, roubando-nos mutuamente o tempo, juntámos os nossos tempos e todos nós, os tempos de todos nós sete, foram empregues ao serviço do amor ao próximo, da evangelização (estivemos os sete a dar catequese ao mesmo tempo), mas também em associações de pais, de estudantes…
 
Quanto possível tento manter-me elo da cadeia, passando aos meus netos, com a minha mulher, o sabor da vida, com Deus, com a família e com o próximo. Eles até acreditam que a nossa televisão e o nosso computador passam coisas que não há nas casas dos pais deles.
 
Uma experiência marcante na minha paternidade? Sou amante de jogos, e ensinei toda a espécie de jogos às minhas filhas, como faço agora aos netos. O meu pai não percebia porque eu não deixava as minhas filhas ganharem-me e os meus genros não percebem porque não deixo os meus netos ganharem. Mas as minhas filhas percebem. Elas sabem que os ensino a jogar, para poderem ganhar e ser bons jogadores. Não lhes dei nem dou o contentamento de ‘pensarem’ que jogam bem, ensino-os a jogar bem.

 

[Por Orlando de Carvalho, Loures]

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