Pôr-se a caminho para iluminar a vida

Peregrinar 23 julho 2019  •  Tempo de Leitura: 5

Impelido por uma grande nostalgia de infinito, de transcendência, o homem e a mulher de hoje põem-se a caminho, na esperança de que possa verificar-se alguma mudança a nível existencial. Do ponto de vista pastoral, a peregrinação deveria ser uma experiência de conversão a estimular, numa rota que, qualquer que seja o ponto de partida e a meta, passa sempre pelas mesmas encruzilhadas.

 

O afastamento
Fazer-se peregrino e pôr-se a caminho significa viver o afastamento das coisas de cada dia, renunciar a objetos e hábitos que na repetitividade quotidiana se consideram indispensáveis. É por isso que é importante que a comunidade cristã convide a viver com sabedoria este processo, mas também com um pouco de provocação, do género: porque não desligar o telemóvel durante as horas do caminho?

 

O cansaço
A par da descoberta surpreendente de ter as energias necessárias para a poder fazer a peregrinação, o peregrino faz a experiência do seu limite. Naturalmente ambos devem ser considerados testes importantes para um maior conhecimento de si, e cujas ressonâncias interiores, acompanharas pela comunidade cristã a serem reelaboradas com sinceridade, tornam-se fatores de crescimento humano e espiritual.

 

A companhia
A peregrinação oferece a experiência de uma companhia que se experimenta unida na partilha de momentos de caminho ou de pausa, que se tornam ocasião de conhecimento e de diálogo. É uma experiência singular de humanidade, para a qual contribui a comunidade cristã que se faz abraço acolhedor. Durante a peregrinação emerge o elemento constitutivo do ser humano que é a necessidade do outro.

 

A solidão
Se o ser humano é feito para a relação e a comunhão, todavia precisa de harmonizar a sua busca de partilha com a identicamente necessária dimensão do silêncio e da solidão. É talvez a componente mais difícil da peregrinação, e todavia não é menos importante do que a da companhia. Claramente, quanto mais numerosos são os espaços de silêncio e de solidão que a comunidade cristã garante ao longo do caminho, mais são as ocasiões que se oferecerão para a interioridade de cada peregrino experimentar a dimensão da profundidade de um silêncio que de exterior se faz interior.

 

O maravilhamento
O andar a pé dá o tempo para olhar com mais atenção aquilo que se oferece ao próprio olhar. O peregrino aprende a deter-se: deixa de ser um consumidor, torna-se um contemplativo. Sabe reconhecer e apreciar as coisas como se apresentam aos seus olhos, não como algo que é dado como adquirido, mas como um elemento que pode suscitar múltiplos sentimentos, inclusive o da gratidão.

 

A oração
Na peregrinação, a comunidade cristã não deve fazer faltar oportunidades para propor momentos de oração, que quase sempre encontram uma inesperada resposta interior. O que mais conta é o emergir de perceções e sentimentos talvez empurradas para o esquecimento, e que dispõem o peregrino para a relação com um Mistério que volta a ser próximo.

 

A amizade com Jesus
A oração é certamente um dos instrumentos com que o cristão mantém viva a sua relação de amizade com Jesus. E a peregrinação deve transformar-se numa experiência mais profunda de Jesus. É um Cristo que é olhado e contemplado, porque, cruzando-nos com o seu olhar, experimentamos toda a simpatia que Ele derrama sobre nós, essa “sympatheia” de que deu sobretudo prova na cruz, quando, carregando os nossos pecados, padeceu e morreu pela nossa redenção.


Do olhar contemplativo para aquele que o Pai nos enviou para que aprendêssemos dele como ama o coração de Deus, nasce o desejo de “estar com Jesus” e de fruir da sua amizade, para espalhar à nossa volta o perfume do seu amor.


Para garantir tudo isto, é necessária uma opção pastoral forte: entregar cada caminho, e cada peregrino que sobre esse caminho quer fazer uma experiência de fé, a uma comunidade vocacional que se faça escuta, acompanhamento, encorajamento, olhar amoroso e profético, para que a peregrinação seja uma verdadeira experiência geradora de vida reconciliada e de felicidade saboreada.

 

[P. Gionatan De Marco | Diretor do Departamento Nacional do Tempo Livre, Turismo e Desporto (Conferência Episcopal Italiana)]

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