Conto: O BURRO DO PRESÉPIO

Conto 16 dezembro 2017  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez um homem chamado José que tinha uma carpintaria. Aprendera do seu pai a arte de moldar a madeira e ninguém fazia tão bem móveis, portas, janelas e outros utensílios como ele. A sua fama espalhara-se por toda a região e trabalho era coisa que não lhe faltava.

 

Um dia estava ele a construir uma cadeira quando misteriosamente lhe apareceu à porta um burro que zurrava meigamente olhando para si. Largou tudo e foi espreitar para ver a quem pertencia o jumento mas não viu ninguém. Quando regressou, viu o burro deitado junto à mesa de trabalho e, como parecia cansado, deu-lhe água e algumas cenouras.

 

Até que o dono o procurasse, decidiu cuidar dele e, apesar de lhe ter improvisado um curral, o burro queria era estar com ele e depressa se tornaram amigos inseparáveis. Tinha alguma coisa de especial que não sabia dizer bem o quê e a verdade é que conquistou o seu coração por causa da sua docilidade. Por outro lado, tornou-se uma ajuda preciosa no transporte para as casas dos clientes das redondezas das peças de madeira que lhe encomendavam.

 

Quando José se apaixonou por uma rapariga de nome Maria, o burro rapidamente lhe ganhou um afeto especialíssimo, como se já se conhecessem há muito tempo. As pessoas da povoação achavam graça ao burro que, além de colaborar com o dono no seu ofício, acompanhava sempre José quando ia namorar, esperando-o com paciência e humildade.

 

Numa ocasião, a namorada de José teve que ir às montanhas para visitar e acompanhar por umas semanas a prima que estava de esperanças e ele só se sentiu tranquilo e descansado porque sabia que o seu burro a levaria e traria no dorso e estaria presente durante o tempo em que ela lá permanecesse.

 

Quando casaram, o burro parecia particularmente satisfeito pela missão que lhe fora confiada de transportar a noiva e, durante a boda, todos os convivas o ouviam zurrar com indisfarçável alegria como que comungando da solenidade do momento e da felicidade de José e Maria.

 

Uns tempos depois, José teve que deslocar-se à sua terra natal e, como a sua esposa estava grávida, a preocupação e a ansiedade eram imensas. Para não deixar Maria em casa e porque a qualquer momento poderia dar à luz, José preparou o jumento para que a levasse e a viagem fosse o mais cómoda e serena possível.

Surpreendentemente, ou talvez não, o burro nunca caminhara com tanta prudência, diligência e desvelo. Parecia sentir-se especialmente honrado por levar às costas a Maria e ao seu bebé no ventre e assumira com extraordinário cuidado a tarefa que José lhe confiara.

 

Após alguns longos e árduos dias de caminho, chegaram ao destino e, lamentavelmente, não encontraram nenhum quarto livre nos albergues da terra. Depois de muito procurar, acomodaram-se num estábulo que um pastor, gentil e providencialmente, disponibilizou.

 

E foi naquela noite fria e naquele local modesto que Maria deu à luz. José deitou o bebé numa manjedoura que improvisou como berço e a emoção era evidente. O burro parecia mais contente do que nunca e, acompanhado por uma vaca, parecia fazer guarda de honra ao recém-nascido, aquecendo-o com o seu bafo.

 

Durante a noite, apareceram uns pastores que, tendo ouvido dizer que ali nascera um menino, quiseram visitá-lo e levar algumas ofertas e, pouco tempo depois, surgiram, também, uns magos que lhe presentearam uns pequenos baús com ouro, incenso e mirra.

 

Apesar das muitas pessoas que pelo estábulo passaram e não obstante os variadíssimos e valiosos presentes oferecidos, o bebé parecia só ter olhos para o burrinho e só para ele sorria. O menino esticava-lhe muitas vezes os bracitos para brincar e ele encostava-lhe o seu focinho com mansidão e delicadeza e, de vez em quando, José pegava-o ao colo e colocava-o com ternura no seu dorso, sendo visível e inequívoca a imensa cumplicidade entre todos.

 

Uns tempos depois, José, preocupado e apreensivo com alguns boatos ruins que ouvira, decidiu partir para bem longe dali, puxando o seu fiel e humilde jumento, com Maria e o menino em cima. As únicas certezas que levaram na bagagem era a confiança em Deus e a amizade do burro que para os três olhava como que a dizer que tudo ia correr bem.

Paulo Costa

Conto

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