Conto: As formigas do jardim

Conto 18 setembro 2017  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez um homem que gostava muito de animais e tinha um enorme interesse por tudo quanto se relacionasse com a vida selvagem. Nos seus tempos livres, apreciava ver bons filmes e documentários sobre fauna e adorava ler livros sobre elefantes, leões, tigres, rinocerontes, búfalos, camelos e muita outra bicharada.

 

Um dia, depois do almoço, estava a tomar café e a ler o jornal no jardim da sua casa e adormeceu na cadeira. A sua mulher, quando foi buscar a chávena, viu um carreiro longo e compacto de formigas que subia e descia a mesinha para levar grãos de açúcar que haviam sobrado no pacotinho. Enquanto despertava o marido, afastava as formigas mais próximas.

 

O homem, que sempre admirara animais selvagens, imponentes e perigosos, fora visitado, perturbado e assaltado por dezenas de minúsculas e inofensivas formigas na sua própria casa e, quando se preparava para esmagar a fila de formigas que ali estava, o filho aproximou-se e, empurrando-o, gritou-lhe para que nem pensasse em matá-las.

 

Enquanto, convidava o pai e a mãe a acompanhá-lo para descobrir onde estava o formigueiro, explicou que as formigas eram dos animais mais admiráveis e extraordinários do planeta. Disse-lhes que eram o grupo mais numeroso dos insetos, estavam em todo o planeta à exceção das regiões polares, e que o seu aparecimento na Terra poderia ter acontecido há mais de 100 milhões de anos.

 

Quando os três chegaram ao montinho de terra no canto do jardim junto a uma árvore, observaram que havia vários carreiros de formigas que, de forma muito organizada e metódica, entravam e saíam do buraco e ficaram ali em silenciosa contemplação.

 

Depois, o filho explicou que os formigueiros eram autênticas obras de engenharia subterrânea, com um complexo sistema de túneis, galerias e câmaras que se estendiam por vários metros e que tinham funções específicas como o armazenamento de alimentos, a suíte da rainha ou o berçário onde eram tratadas as larvas.

 

Referiu, ainda, que as sociedades das formigas eram organizadas por divisão de tarefas, muitas vezes chamadas castas. A função da reprodução era realizada pela rainha e pelos machos e as funções da procura de alimentos, construção, manutenção e defesa do formigueiro eram realizadas por fêmeas estéreis, chamadas de obreiras. As operárias tomavam conta da crias, faziam a limpeza dos diversos espaços e coletavam o alimento e as formigas soldados guardavam a entrada do formigueiro.

 

O pai do rapaz estava admirado com os vastos conhecimentos do filho e, para não ficar atrás, disse que sabia que as formigas comunicavam entre si através de elementos químicos chamados feromonas, que eram sinais de mensagens deixados nos trilhos que elas formavam entre os alimentos e o formigueiro. Referiu, também, que, dependendo da espécie, havia formigas carnívoras, herbívoras e a maior parte eram onívoras e que eram tão fortes que eram capazes de carregar um peso até cem vezes maior que o seu próprio peso.

 

Quando iam os três de regresso a casa, chamou-lhes a atenção uma formiga que trazia uma folha muito maior do que ela e, noutro carreiro, um grupo que transportava uma minhoca grande e gorda. De certeza que não conseguiriam entrar com aquilo pela entrada estreita do formigueiro mas, surpreendentemente, muitas outras se juntaram logo a elas e cortaram a folha e a minhoca em pedacinhos bem pequenos num notável e exemplar trabalho de equipa.

 

Os pais do rapaz estavam maravilhados com a forma como as formigas viviam em paz e harmonia familiar e como eram sábias, organizadas, unidas, humildes, obedientes e cumpridoras. Era incrível como trabalhavam esforçadamente e sem desistir, tinham iniciativa e lutavam sem cessar pelos seus objetivos e armazenavam riqueza no verão para poder usufruir do descanso e dos resultados do seu trabalho no inverno.

 

O homem estava edificado com as inúmeras lições de vida que as formigas lhe tinham oferecido naquela tarde e, apesar de apreciar imenso animais imponentes e selvagens, com umas das mais pequenas criaturas de Deus havia aprendido muito mais.

Paulo Costa

Conto

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