Conto: «O valor e a fragilidade da confiança»

Conto 18 novembro 2023  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez uma menina que foi pela primeira vez sozinha à mercearia da aldeia fazer compras. Como se viu com tanto dinheiro nas mãos e viu tantas coisas saborosas, caiu na tentação de comprar várias guloseimas e chegou a casa sem nada do que constava na lista da mãe, dizendo que perdera o dinheiro todo pelo caminho. Como ficou com muitas dores de barriga e lhe pesou a consciência, lá confessou a muito custo toda a verdade aos pais. Então, a mãe disse-lhe:

 

- Filha, confiei em ti, mentiste-me e estou triste e desiludida contigo. Olha, a confiança é uma realidade que tem tanto de valioso como de frágil, pois é fácil de quebrar e perder e muito difícil de recuperar ou remediar. A confiança exige tempo para ser conquistada, mas perde-se em poucos segundos. A confiança é como uma folha de papel que, depois de amarrotado, nunca mais volta a ficar bem como antes ou como um tecido de seda que não aceita remendos. Também é como uma borracha, que fica cada vez mais pequena a cada erro cometido ou como um vidro que, uma vez partido, acabou. Não precisas de me mentir nem de me esconder nada. Não voltes a fazer isto.

 

A menina mostrou-se arrependida, pediu desculpa e disse que não voltaria a dececioná-la. Uns tempos mais tarde, ela chegou da escola a chorar compulsivamente, dizendo à mãe que a sua maior amiga a tinha traído pois contara a outras colegas um segredo que apenas a ela revelara: ela gostava de um rapaz da turma. Então, a mãe abraçou-a, confortou-a e disse-lhe:

 

- Querida, não há ninguém que já não tenha passado pela experiência da perda de confiança em alguém próximo. Quem for incoerente entre o que diz e faz ou quebrar uma promessa está a destruir toda a confiança em si depositada. A confiança é contagiante, mas a sua falta também. A verdade é que, mais cedo ou mais tarde, damo-nos conta de que nem toda a gente é merecedora da nossa confiança. Não fiques triste. Devemos respeitar todas as pessoas, mas não podemos confiar em toda a gente.

 

Como a menina se tinha envolvido em poucas semanas em duas situações que a tinham marcado muito, começou a revelar falta de confiança em si mesma e baixa autoestima. Então, passados uns dias, o pai pediu-lhe que fosse de comboio até à cidade mais próxima e entregasse um documento importante na Câmara Municipal. Apesar de se julgar incapaz de realizar tal tarefa e de ter receio de viajar pela primeira vez sozinha, aceitou o desafio do pai que, para a incentivar, a abraçou e disse:

 

- Filhota, acredito em ti e sei que tu és capaz desta missão. Acreditares em ti própria é o primeiro degrau para alcançares todo e qualquer sucesso na tua vida. Somos mais fortes do que pensamos e podemos ser mais felizes do que imaginamos. Por isso, o segredo do êxito é lutar sem desistir pois muitas vezes é a última chave do chaveiro a conseguir abrir uma porta. Não podemos deixar de acreditar e de nos esforçarmos, pois as conquistas dependem da nossa força de vontade. Confia em ti e vai lá.

 

A menina lá foi e, apesar da sua apreensão e angústia, fez tudo direitinho como o pai lhe pedira. Ao chegar a casa, a mãe abraçou-a e o pai disse-lhe:

 

- Estou orgulhoso de ti. Como vês, vale a pena acreditar, correr atrás, ousar, arriscar, atrever-se, tentar, pois a única coisa que está entre nós e os nossos sonhos é o medo. Não podemos deixar que sejam os nossos receios a tomar as nossas decisões e espero que a confiança e coragem que revelaste nesta viagem sejam a confiança e a coragem que procurarás ter durante toda a tua vida. Ninguém pode vencer por nós e só nós mesmos podemos derrubar os obstáculos que nos aparecerem pelo caminho. Se não desistirmos, há sempre a hipótese de tropeçarmos em algo maravilhoso e a verdade é que se acreditarmos em nós mesmos e confiarmos em Deus, Ele dar-nos-á tudo quanto precisarmos para conquistarmos o mundo.

 

A menina voltou a acreditar em si mesma, ficou muito feliz por ter recuperado a confiança dos seus pais e nunca soube que eles tinham viajado consigo na última carruagem do comboio e que nunca a tinham perdido de vista na cidade. 

Paulo Costa

Conto

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