Conto: As girafas do Safari

Conto 15 agosto 2019  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez um homem que gostava muito de animais, mas achava que Deus não tinha estado muito inspirado quando criou a girafa. Considerava-a o animal mais inútil e imperfeito de toda a natureza e julgava-a bem distante da beleza, imponência, força e inteligência da maior parte da fauna da criação que, esses sim, engrandeciam a omnipotência e omnisciência divina.

 

O homem não se cansava de argumentar que o bicho com o pescoço mais comprido de todo o planeta não era mesmo nada bonito e que aquela altura toda de quase seis metros não lhe oferecia elegância alguma. Achava que o dito cujo mamífero não era um animal normal já que passava quase vinte horas por dia a comer folhas de árvores e dormia, imagine-se, em pé e por períodos reduzidos de menos de três horas por jornada.

 

Um dia, o homem conseguiu realizar um sonho antigo e foi à savana africana num safari para ver ao vivo elefantes, leões e leopardos, que considerava os mais belos espécimes do reino animal. Qual não foi o seu espanto, quando logo na primeira hora de passeio, viu, através dos seus binóculos, uma girafa a dar à luz. Durante o nascimento da cria, a mãe permaneceu de pé e o filhote caiu de uma altura de mais de dois metros. O que valeu foi que a vegetação da savana amorteceu a queda e rapidamente a girafinha se pôs em pé.

 

Em poucos minutos, leões, hienas e leopardos aproximaram-se, mas a chegada de outras girafas intimidou-os. O guia do safari disse que as pernas de dois metros e meio da girafa podiam desferir um coice capaz de matar qualquer leão e era a patada mais forte que se conhecia.

 

O homem ficou impressionado com a sagacidade das girafas na proteção da cria, enquanto o guia alegava que as girafas eram, efetivamente, animais tranquilos e pacíficos e que tínhamos muito a aprender com elas. Disse que eram dos poucos animais que nasciam com chifres, apesar de serem cobertos por pele, e que raramente os machos lutavam entre si.

 

Entretanto, alguns antílopes e avestruzes aproximaram-se e parecia haver boa convivência com as girafas. O guia foi explicando que as girafas viviam entre os quinze e os vinte anos, que eram animais muito rápidos graças às suas longas pernas e que eram quase silenciosas, comunicando com ruídos impercetíveis para os ouvidos humanos. Referiu, ainda, que as girafas eram herbívoras, gostando de comer folhas de acácias e, para isso, eram dotadas de uma língua de quase cinquenta centímetros e que, por isso, eram o único animal capaz de alcançar as próprias orelhas com ela.

 

O homem estava verdadeiramente admirado com as informações do guia e mais ainda ficou quando disse que as manchas das girafas eram únicas e funcionavam como as impressões digitais humanas pois o padrão de pelagem de cada uma era exclusiva e diferente das outras.

 

Distraídos com a conversa, inexplicavelmente, o jeep bateu num velho tronco e capotou e o homem e o guia foram projetados por uma ribanceira abaixo para um lago. Subitamente, dois leões aproximaram-se perigosamente e o que valeu aos homens foi o aparecimento repentino de duas girafas que, estendendo os seus longos pescoços, permitiram que se salvassem.

 

O homem dava graças a Deus por, admiravelmente, os ter salvo de morte certa através das girafas e dizia repetidamente que Ele, mais uma vez, escrevera direito por linhas tortas. O guia, feliz da vida, dizia que as girafas tinham, literalmente, um coração muito grande e explicava que a cabeça da girafa ficava a mais de dois metros de distância do coração e que para fazer o sangue subir, o coração precisava ser muito forte e que, por isso, o seu coração era quarenta e três vezes maior que o do ser humano.

 

Depois referiu que era por estas e por outras que as girafas dormiam muito pouco e que apenas quando se sentiam completamente seguras é que se deitavam no chão para descansar. É que no caso de um predador se aproximar, demorariam muito tempo a levantar-se.

 

O homem estava maravilhado com a sabedoria divina e depois daquele safari nunca mais ousou dizer que havia animais melhores que outros, já que o Criador tudo fizera muito bem feito e cada espécie tinha as suas próprias virtudes. O homem regressou a casa feliz com a aventura singular que tivera o privilégio de viver e as girafas ficaram definitivamente no seu coração.

Paulo Costa

Conto

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