Conto: «O LEÃO DA SAVANA»

Conto 15 agosto 2018  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez um rapaz que gostava muito de animais e era muito feliz por poder ter e cuidar de alguns que tinha na sua quinta. O seu sonho era ir ver de perto os leões da savana africana e como os pais viviam sem problemas económicos organizaram um safari para a família para mergulhar de uma forma mais vibrante na vida selvagem.


O rapaz admirava imenso o animal que era comumente apelidado de rei da selva e estar no seu espaço natural era uma aventura de outro mundo. Dava graças a Deus por ter o privilégio singular de embrenhar-se na famosa savana com o seu habitual clima quente e seco, paisagem aberta, árida e pouco arbórea e vegetação abundante de gramíneas e arbustos.


A bordo de um jipe, que era o veículo de tração às quatro rodas que melhor se adaptava àquele tipo de terreno acidentado, e conduzidos por um guia experiente, o rapaz e os seus pais puderam visitar um parque selvagem e, por entre muitos outros animais, tiveram a honra de observar bem de perto uma família de leões. Com recurso aos binóculos, viram que naquela zona havia três machos, uma dúzia de fêmeas e alguns filhotes.


O rapaz apreciava as glamorosas jubas dos três leões, que eram como coroas impressionantes de pelos longos que rodeavam as suas cabeças e deu-se conta de que eles, tendo consciência da presença do jipe e olhando desconfiados, rugiam ameaçadoramente e urinavam nos arbustos para intimidar, marcar a área que lhes pertencia e afugentar os intrusos.


Subitamente, o guia deu-se conta de que ao largo passeavam antílopes, gnus e zebras e como que percebendo que os leões poderiam querer atacar e a segurança das pessoas do grupo poderia estar ameaçada, afastou-se para trás de umas árvores para que pudessem assistir ao que se iria passar sem perigo.


Como era costume, foram as leoas que assumiram a tarefa da caça e trabalharam em equipa para isolar e caçar uma zebra. Surpreendentemente, um leãozinho pequeno acompanhou-as sem que se tivessem dado conta e, no meio da correria da fuga, um grupo de gnus pisoteou-o de forma impetuosa e descontrolada.


O rapaz viu que o leãozinho ficara estendido por terra contorcendo-se com dores e isso perturbou-o irremediavelmente. Depois observou como, a sensivelmente mil metros dali, o grupo das leoas arrastava a presa e tinha início a disputa para a repartição da caça. Como era costume, o leão macho alfa foi o primeiro a alimentar-se e só depois as caçadoras, sendo que os filhotes, que estavam no fundo da hierarquia familiar, foram os últimos a comer.


Após testemunhar ao vivo e a cores a caça das leoas e a refeição de toda a família, o rapaz não deixava de pensar no leãozinho que poderia não sobreviver ao atrevimento que tivera e ao atropelamento selvagem de que fora vítima. Então, convenceu o guia a levar o jipe até ao local e tratou o pequeno leão com tudo o que havia na caixa de primeiros socorros. Como estava em muito mau estado, acharam melhor pegar nele e levá-lo ao veterinário do parque.


Durante uma semana, o rapaz foi a companhia permanente do leãozinho. Ajudava a dar-lhe a medicação e a comida e brincava e dormia com ele. Ao final de oito dias, estava recuperado e o rapaz, o veterinário e dois guardas do parque foram levá-lo para junto do seu grupo. Depois de o leãozinho ter lambido demoradamente as mãos do rapaz, todos os leões receberam efusivamente o membro da família que havia desaparecido.


Passados cinco anos, o rapaz voltou à savana acompanhado de alguns amigos. Queria mostrar-lhes a família de leões que conhecera naquele parque selvagem e, para espanto de todos, um leão aproximou-se sem que parecesse exibir um ar ameaçador. O rapaz percebeu logo que era o leãozinho que salvara uns tempos antes e que era agora já adulto.


O rapaz desceu do jipe, benzeu-se e o leão inesperadamente levantou-se, abraçou-o com as suas patas e lambeu-lhe carinhosamente a cara sem cessar. Apesar de possante, robusto e selvagem, o leão parecia revelar sentimentos humanos. A verdade é que o rapaz e o leão ficaram amigos para sempre e todos os anos visitava-o alegremente na savana.

Paulo Costa

Conto

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