Conto: O cavalo da menina da quinta

Conto 15 junho 2018  •  Tempo de Leitura: 5

Era uma vez uma menina que tinha o sonho de ter um cavalo. Desde pequenina, gostava muito de desenhar e ler histórias de cavalos e achava-os os animais mais bonitos do mundo. Admirava a sua esperteza, elegância e velocidade e passava grande parte do seu tempo livre a folhear mil e um livros sobre o tema.

 
A menina não se cansava de partilhar com os seus amigos tudo quanto descobria sobre cavalos. Explicava vezes sem conta que a domesticação do cavalo ocorrera há uns três mil anos e isso fora muito importante para as civilizações asiática e europeia e que eletivera durante muito tempo um papel decisivo nos transportes, trabalhos agrícolas e até nas guerras ao serviço dos exércitos.

 
Gostava de exibir a todos a sua sabedoria, repetindo quase que mecanicamente que o equídeo era da mesma família que o asno e a zebra, que era herbívoro, granívoro e corredor, que não tinha outra arma além dos cascos, que a fêmea chamava-se égua e ao filho dava-se o nome de potro, que a sua gestação durava 11 meses e podia viver em média 25 anos e que o cavalo de corrida podia chegar a correr a uma velocidade de 60 e tal quilómetros à hora.

 
Um dia, os pais da menina foram a uma feira de cavalos e do programa constavam provas desportivas de equitação de trabalho, atrelagem, Horseball, saltos de obstáculos e batismos equestrese havia cavalos e cavaleiros de renome internacional e com títulos conquistados em inúmeras e prestigiadas provas e campeonatos.

 
A menina estava eufórica com tudo e mais alguma coisa mas não conseguia disfarçar a sua tristeza por não ter um cavalo só seu. Então, os pais, que adiaram o mais que fora possível a aquisição de um para a filha, decidiram comprar-lhe um bonito potro branco.


Como havia muito espaço na quinta, o cavalinho corria desenfreadamente e ninguém conseguia chegar perto dele. Galopava de forma selvagem, frenética e vertiginosa por todo o lado e nada nem ninguém o conseguia sossegar.


A menina sentia-se triste e dececionada. Sempre tivera o sonho de ter e montar um lindo cavalo e cavalgar livremente pelas montanhas e planícies como se não houvesse amanhã e a verdade é que o potro não acalmava nem obedecia e, tanto o pai como alguns amigos, tentavam à força prendê-lo, dominá-lo e domesticá-lo e nada conseguiam.


Então, a menina lembrou-se que lera algures que os cavalos não podiam ser montados antes dos dois anos e que, tal como acontecia com as crianças, precisavam de crescer, aprender e amadurecer e que se conseguiriam educar melhor com paciência, serenidade e diálogo. Depois de folhear vários livros da especialidade, decidiu ser ela mesma a domesticar o seu potro.


A menina passou a estar cada vez mais tempo perto do seu cavalo para que se habituasse à sua presença. Passeava, cantava e falava com ele e começou a dar-lhe comida e a escovar-lhe o pelo aos poucos, de forma a criar vínculos e a ganhar a sua confiança. Procurava falar-lhe num tom de voz calmo e baixo e estar sempre no seu campo de visão para que não se assustasse e garantisse a sua própria segurança. Ao longo do tempo, foi ensinando pequenas coisas e o cavalo era recompensado com petiscos e carinho de cada vez que conseguia dar passos positivos na sua aprendizagem.


Paulatinamente, o cavalo aceitou o cabresto, foi-se acostumando a cavalgar obedecendo aos comandos da menina e adaptou-se à sela e aos estribos. Depois, a menina começou a treiná-lo para ser montado e, com a ajuda do pai, lá chegou o grande dia.


Toda a gente ficou admirada com o conhecimento, paciência e persistência que a menina revelara durante meses a fio no adestramento do cavalo. A docilidade e firmeza que evidenciara com o seu cavalo ficaram famosas em toda a região e todos achavam que, surpreendentemente, os dois conseguiam conversar um com o outro.


A menina sentia-se muito satisfeita com o seu cavalo e os pais davam graças a Deus pela amizade e cumplicidade que havia entre eles. Ele dava-lhe muitas lições de vida, tornara-se o seu mais fiel companheiro e ela sentia-se a pessoa mais feliz do mundo.

Paulo Costa

Conto

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