Conto: O elefante da Aldeia

Conto 19 fevereiro 2018  •  Tempo de Leitura: 4

Era uma vez uma rapariga que vivia numa aldeia no meio da floresta. Como todas as outras casas, a sua casa era feita de palha e troncos de madeira e as pessoas cultivavam a terra e cuidavam de alguns animais domésticos para garantir a sua subsistência.

 

Todos na aldeia temiam o ataque de algum animal selvagem pois, de vez em quando, leões, tigres e serpentes entravam nas palhotas à procura de comida e, em tempos idos, já tinham deixado rastos de sangue entre a população.

 

A rapariga sempre revelara uma coragem invulgar e ajudava os homens a defender a aldeia com unhas e dentes. O que os seus pais não gostavam muito era de quando decidia escapulir-se da povoação pois, como era rebelde e aventureira, gostava de ir passear e esquadrinhar as redondezas. Aí, ficavam tão preocupados que rezavam a todos os santos e mais alguns.

 

Ela gostava imenso de ir observar os elefantes que, a uns quantos quilómetros da aldeia, era normal passearem em grandes manadas. Ficava encantada com os laços sociais e afetivos que evidenciavam os maiores animais terrestres e espantada com a grandeza e robustez dos paquidermes, gostando particularmente de apreciá-los a caminhar com as suas enormes patas, trombas e orelhas, a brincar com as suas crias, a beber água no rio e a comer erva, fruta e folhas de árvores.

 

Paulatinamente, a rapariga começou a ter cada vez mais receio de ir ver os elefantes pois o seu comportamento tornara-se estranhamente invulgar. Deu-se conta que houvera incêndios em algumas florestas mais longínquas, que havia cada vez mais camiões de madeireiros a transportar troncos de árvores e que era cada vez mais recorrente ver elefantes mortos por causa da extração dos seus dentes de marfim para venda.

 

Numa noite, igual a todas as noites, alguma coisa inusitada aconteceu. Enquanto toda a aldeia dormia tranquilamente, ouviu-se subitamente o forte bramido de alguns elefantes que pisavam desenfreadamente os terrenos de cultivo, empurravam violentamente as palhotas das pessoas e comiam desvairadamente couves, batatas e cenouras bem como galinhas, patos e coelhos e tudo o que aparecesse pela frente.

 

Alarmados e aterrorizados, os homens da aldeia depressa desataram aos tiros contra os elefantes, apesar dos gritos de reprovação da rapariga que percebera perfeitamente que aquilo, mais cedo ou mais tarde, poderia acontecer, visto que o habitat dos elefantes estava cada vez mais destruído e reduzido e os alimentos escasseavam nos seus territórios.

 

De todo aquele alvoroço, pandemónio e pânico, resultou uma excecional destruição e um dos elefantes morto. Mas o que mais impressionou e comoveu a rapariga foi ver um elefante bebé que gemia desesperado junto ao corpo do elefante abatido, que deveria ser a sua mãe.

 

Enquanto a preocupação de todas as pessoas da aldeia era a de reconstruir as casas e voltar a semear a terra, a única obsessão da rapariga era ajudar o bebé elefante. Durante as semanas seguintes, esforçou-se por proporcionar ao jovem paquiderme uma vida o mais feliz possível, tentando remediar a morte da mãe. O elefante foi-se afeiçoando à rapariga e gostando de ficar pela aldeia e toda a gente o estimava e admirava pela sua docilidade e humildade.

 

Com o decorrer dos anos, o elefante foi sendo ensinado pela rapariga a executar algumas tarefas e levava as crianças às costas a passear, ajudava a transportar cargas mais pesadas e a sua presença robusta e imponente afugentava os animais que constituíam habitualmente maior ameaça.

 

Apesar de ter vivido sempre em liberdade, nunca quis deixar a aldeia e a sua maior façanha foi quando numa noite de trovoada seca se apercebeu que um raio caíra numa árvore e, depois de muito bramir a alertar as pessoas, com a sua tromba carregada vezes sem conta de água do riacho, foi incansável a ajudar a apagar o incendio que alastrara a várias palhotas.

 

Já bastante velho e depois de ter visto nascer os filhos e netos da rapariga que se tornara a sua maior amiga, o elefante, como que pressentindo o fim, retirou-se pela primeira vez da aldeia para morrer sozinho. Toda a gente chorou mas não houve ninguém que não sorrisse também.

Paulo Costa

Conto

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