O imenso e nós

Razões para Acreditar 21 maio 2019  •  Tempo de Leitura: 1

Em 1917, o poeta Giuseppe Ungaretti escreve uma das mais célebres poesias do século XX. Trata-se de uma composição brevíssima, que consiste nisto: «Ilumino-me de imenso».

 

Qualquer que seja a interpretação que dela façamos, é importante interrogar-se sobre o seu significado existencial. O que pode representar para a vida de cada um de nós iluminar-se daquilo que é imenso?

 

É verdade que o desenho destes dois versos se assemelha a um flor que flutua na leveza do tempo. É uma espécie de cintilação, de leveza, de encantamento e de leveza perante o ser. Quanto o precisamos!

 

Precisamos de descobrir esta arte de existir na confiança e no espanto das pequenas coisas, através das quais a imensidão nos visita.

 

Ao contrário, não raramente a nossa experiência quotidiana está em total dissonância com esta leveza. Sentimo-nos sem força e sem graça, com os passos cada vez mais pesados, e como se o nosso coração nada mais do que uma casa às escuras.

 

Talvez nos ajude saber que esta poesia – que contém um extraordinário programa de vida – foi escrita quando Ungaretti se encontrava, como soldado, na frente de batalha na primeira guerra mundial, na trincheira, num mundo em escombros.

 

E talvez compreendamos, desta maneira, que nem sequer as dificuldades nos subtraem ao dever da grande celebração daquele dom que é estarmos vivos.

 

[D. José Tolentino Mendonça | In Avvenire]

Artigos de opinião publicados em vários orgãos de comunicação social. 

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