Não saber nem como nem porquê

Razões para Acreditar 14 maio 2018  •  Tempo de Leitura: 2

«É certo que os verdadeiros poetas dizem muitas vezes coisas maravilhosas e absolutamente plausíveis sem terem pensado a mais pequena coisa sobre essas coisas; é por isso que se os compara àquelas fontes de onde brota água viva, clara e saborosa, e que não sabem nem como nem porquê.»

 

Extraí esta citação da "Carta aos pedantes", de um escritor criticado e estimado ao seu tempo, Pietro Aretino (1492-1556), que misturou vidas de santos e "sonetos libidinosos", amizades com personagens como Ticiano ao mesmo tempo que frequentava prostitutas que lhe davam materiais para as suas comédias e diálogos.

 

Aqui, no entanto, oferece-nos uma reflexão interessante que pode ultrapassar o específico dos «verdadeiros poetas» (e sabemos o quanto é importante esse adjetivo!).

 

Muitas vezes somos surpreendidos perante a riqueza que certos textos continuam a revelar e que, à primeira vista, não se suspeitava; é então que surge a pergunta: mas o autor tinha em mente e pretendia dizer precisamente todas estas coisas?

 

Aretino responde-nos recordando que no grande artista está em ação uma força que o transcende e que, não por acaso, foi chamada «inspiração», quase como para os livros da Sagrada Escritura.

 

No artista há uma fonte de vida e de luz que lhe foi dada e que gera um rio que vai para além da sua própria consciência.

 

Pois bem, isto vale também para todas as pessoas que em si recebem como dom uma centelha de luz, uma semente de fecundidade: é o famoso talento evangélico que pode ser um só, mas que não deve ser mantido encerrado e ofuscado, mas tornado disponível. Só assim se irradia - ainda que de maneira modesta - luz, se oferece água que dessedenta.

 

[P. (Card.) Gianfranco Ravasi | In Avvenire]

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