Livro da semana: «A caridade dá que fazer»

Livros 25 abril 2018  •  Tempo de Leitura: 7

“Porquê a caridade hoje?”

É com esta interrogação que Luciano Manicardi nos desperta para a necessidade de sermos pró-ativos em vez de indiferentes quando vemos diariamente “imagens de desumanidade” através dos meios de comunicação social sobre situações de sofrimento, de pobreza, exclusão, de marginalidade de muitas pessoas que chegam à Europa, através do Mediterrâneo, nomeadamente, imigrantes e refugiados que fogem de lugares em conflito. Daí o autor lançar o desafio para a necessidade de reaprendermos a “gramática elementar da caridade”, do Amor como “arte do encontro, como arte da relação, como arte de viver, […] num novo impulso de humanidade”.

 

Nesta obra, Manicardi propõe-se explicar as razões para termos de falar, na atualidade, sobre a caridade. Defende que a caridade tem uma dimensão histórica, que ocorre nas relações humanas, num espaço e tempo precisos, sendo visível e tangível, no concreto do nosso “quotidiano de amor ao irmão”, não sendo apenas um princípio abstrato. Para o autor, basta olharmos para a caridade cristã “que encontra a sua personificação em Cristo, a caridade suscitada pela ação do Espírito Santo”, e que faz parte da essência e natureza da Igreja. Uma vez que “Jesus revelou-nos a caridade de Deus vivendo-a no seu corpo, «fazendo-a» nas suas relações.” Logo, a “Igreja tem a responsabilidade histórica dessa narração da caridade: é chamada a ser epifania da caridade de Deus nos dias de hoje, [como]: corpo pessoal, social, eclesial, mundial”.

 

O autor alerta que estamos a viver “dias maus”, em vários países europeus para a caridade e desenvolve este argumento, usando como solução a “caridade da razão”, isto é, é necessário sair da “cultura de lamentação”, de “sentimento ou vaga piedade”, para mostrar que o mal não tem a última palavra e assumir uma “praxis inspirada na diferença cristã, no Evangelho.” Mais adianta que “é necessário que a razão política seja enxertada na caridade e na justiça, saiba que é habitada pela caridade, ou seja, pelo sentido do sofrimento do outro, do sentido do seu caráter único e irrepetível, do sentido do humano presente em cada homem, antes de cada uma das suas definições.”

 

Assume que a caridade também deve ter uma dimensão crítica: sugere que nos libertemos do preconceito que atribui ao pobre “(imigrante, cigano, mendigo, [refugiado]…)” o estigma de “delinquência potencial”, para passarmos a fazer uma leitura atenta dos acontecimentos, o que obriga a um discernimento apurado na busca do verdadeiro sentido de justiça, como expressão profética e concreta da caridade.

 

Segundo, Manuela Silva (na apresentação à edição portuguesa), Luciano Manicardi, neste livro, escolhe o caminho das “fontes da tradição bíblica (Antigo e Novo Testamento) e da literatura patrística, que ele aprofunda, exaustivamente, e enriquece, aqui e além, com o pensamento de autores de referência contemporâneos. Percorre, uma a uma, as 14 obras de misericórdia, recorda-lhes as raízes, desvenda-lhes sentidos que passam despercebidos aos não-especialistas, transporta para a contemporaneidade o seu alcance espiritual e implicações concomitantes.”

 

É de realçar, que nesta 3ª edição (2016), e sendo o Ano Jubilar da Misericórdia, o autor adicionou duas reflexões preliminares, respetivamente às obras de misericórdia corporais e obras de misericórdia espirituais.

 

Informação disponível sobre o autor à data da edição desta obra:

 

“LUCIANO MANICARDI nasceu em 1957, em Campagnola Emília, Itália. É monge e responsável pela formação dos noviços na comunidade monástica de Bose, fundada por Enzo Bianchi, A sua formação principal é no campo bíblico, cuja pesquisa da Escritura Manicardi tem sabido iluminar com as aquisições mais recentes da antropologia e da psicologia, facto que confere a cada uma das suas obras uma densidade humana e espiritual invulgares, e que desenha não apenas um conhecimento, mas uma autêntica sabedoria. Da sua vasta bibliografia, Paulinas Editora publicou, em 2011, A Caridade dá que fazer e, em 2012, Ao lado do Doente e Viver uma Fé Adulta.”

 

Índice:

Apresentação à edição portuguesa | Introdução | PRIMEIRA PARTE - Porquê a caridade hoje? - A caridade da razão: O carácter histórico da caridade; Caridade da razão; A caridade crítica; As razões da caridade: Razões bíblicas e cristãs da caridade; Caridade e quotidianidade; Caridade e proximidade; Caridade e corpo | SEGUNDA PARTE - As obras de misericórdia - A tradição das obras de misericórdia - As obras de misericórdia corporais: Dar de comer a quem tem fome; Dar de beber a quem tem sede; Vestir os nus; Dar pousada aos peregrinos; Assistir os doentes; Visitar os presos; Sepultar os mortos; As obras de misericórdia espirituais:  Dar bons conselhos; Ensinar os ignorantes; Corrigir os que erram; Consolar os tristes; Perdoar as injúrias; Suportar com paciência as fraquezas do nosso próximo; Rezar a Deus por vivos e defuntos | Conclusão.

 

Público-alvo: Jovem/Adulto

 

Ficha técnica:

Título – A caridade dá que fazer – Atualidade das obras de misericórdia | Apresentação à edição portuguesa – Manuela Silva | Autor – Luciano Manicardi | Editor – Paulinas Editora, 3 ed. aumentada Mar. 2016, 240 págs. | Coleção – Poéticas do Viver Crente - Série Linhas de Rumo | ISBN: 978-989-673-170-0.

Agostinho Faria

Redator Livros

Licenciado em Comunicação Social e Cultural. Pós-graduado em Ciências da Informação e da Documentação. A viajar no surpreendente mundo novo das Paulinas Multimédia Lisboa.

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