Exame surpreendente

Liturgia 27 novembro 2017  •  Tempo de Leitura: 3

Quantas vezes o fizestes

a um dos meus irmãos mais pequeninos,

a Mim o fizestes.

Mt 25, 40

 

Não conheço quem goste de exames. Sejam exames escolares ou exames médicos, o coração bate mais acelerado e ficamos à mercê de um juízo que não dominamos. Ainda que sejam para testar conhecimentos e capacidades ou avaliar o estado da saúde, há sempre o perigo de “chumbarmos”. Mas não conhecemos nem progredimos sem avaliar o que aprendemos e fizemos, sem enfrentar a realidade e procurar novos caminhos. Do exame de consciência ao juízo final, o melhor mesmo é “fazermo-nos amigos” das avaliações e, sem medo, descobrir a sua força de renovação e de esperança.

 

É surpreendente o relato que Jesus faz aos discípulos de “quando o Filho do homem vier na sua glória com todos os seus anjos” (Mt 25, 31). Não pela sua entronização de rei e a imagem de bom pastor que separa ovelhas e cabras, mas pelos argumentos do julgamento, por dar as respostas à pergunta que todos fazem. A surpresa começa pela ausência dos habituais critérios “religiosos” que pareceriam ser os mais importantes Deus avaliar. O que valem as orações, as promessas, as celebrações, os sacrifícios, as adorações, as festas religiosas, as obrigações devidas a Deus que “mostram” como somos religiosos e “cheios” de fé? O verdadeiramente importante é o que se fez pelos famintos, pelos sedentos, pelos estrangeiros, pelos nus, pelos doentes, pelos presos, pelos “irmãos mais pequeninos”! É a vitória do amor sobre a indiferença, da responsabilidade sobre a preguiça. O caminho da felicidade é responder ao sofrimento humano com vida oferecida em abundância!

 

Mas a surpresa é ainda maior quando o rei-juiz, responde a uns e outros, que Ele se identifica com cada um desses pequeninos! Desmoronam-se os “edifícios teológicos e religiosos” do “Deus-acima-de-nós”, e da religião só das “coisas religiosas”. Não O reconhecendo, uns amaram e outros passaram indiferentes. Uns multiplicaram o que receberam, outros enterraram-no no egoísmo de um coração estreito. Se, como dizia S. João da Cruz, “ao entardecer da vida seremos julgados pelo amor”, (o amor que vivemos e o amor que Deus é!), é bom alargar o coração e o pensamento a surpresas deste calibre!

 

O culto, a oração, os sinais religiosos, o louvor a Deus, ou levam a crescer no amor que Deus é e se oferece a quem sofre, ou são tesouro que se enterra e nos enterra! Surpreende que ninguém tenha feito o bem por ter reconhecido Jesus, e escandaliza que, reconhecendo-O, não o façamos. Mas, se todo o exame tem em vista um futuro novo e melhor, que não seja só prolongamento do passado, é possível surpreendermos! Quem são os meus irmãos mais pequeninos?

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