Amas-Me?

Liturgia 5 maio 2019  •  Tempo de Leitura: 4

DOMINGO III DA PÁSCOA Ano C

 

“Senhor, Tu sabes tudo, bem sabes que Te amo.”

Jo 21, 17

 

 

Com a ressurreição de Jesus mudou tudo. Mas continua a haver ainda tanto para mudar, como nos relembram as explosões que vitimaram mais de 250 pessoas no último dia de Páscoa, no Sri Lanka! Na celebração da vitória da vida sobre a morte, ainda há quem espalhe morte em seu redor. Em nome de quem e de quê? As grandes mudanças acontecem no íntimo de cada pessoa, e é esse o terreno onde a experiência do amor de Deus pode germinar e crescer.

 

O último capítulo do evangelho de S. João começa com uma cena trivial. Alguns dos apóstolos, liderados por Pedro, vão pescar no lago, à noite, e a manhã encontra-os de redes vazias. Só a confiança no desconhecido que surge com a aurora, e os convida a lançar de novo, e para outro lado, as redes, é que trará a surpresa da pesca abundante. Sem Jesus, não “pescamos” nada. A tentação de “fazer muitas coisas” pode exprimir mais orgulho do que fidelidade ao evangelho. Mais importante que o activismo, é fundamental a qualidade humana e a atenção à voz de Cristo em tudo o que fazemos. Aquela barca torna-se uma feliz imagem da igreja e de cada uma das nossas comunidades: é o encontro com Cristo e a confiança n’Ele, que muda tudo, e até realiza pescas abundantes!

 

Há um texto de Karl Rahner, um grande teólogo alemão do século XX, que tem um sabor de testamento: “O homem religioso de manhã será um místico, uma pessoa que tenha experimentado algo, ou não poderá ser religioso, pois a religiosidade de amanhã, não será já partilhada na base de uma convicção pública unânime e óbvia.” É a experiência de Deus, o encontro com a pessoa viva de Jesus, e não os aspectos sócio religiosos, mais ou menos tradicionais, que nos fazem cristãos. Se vivemos sempre voltados para o exterior é difícil percebermos a presença de Deus. Procurar encontrar a vida a partir de dentro, vencer a tentação da dispersão e fragmentação, e dominar o egoísmo que mata o amor aos outros, são dinamismos de encontro como dizia outro grande teólogo, H. Urs von Balthasar: “o homem é um ser com um mistério no seu coração, que é maior do que ele próprio.”

 

A pergunta de Jesus a Pedro, depois da pesca e da refeição partilhada junto ao lago, ecoa também aos nossos ouvidos: “Tu amas-me?” Repetida por três vezes, tem o sabor de um remédio para as feridas das negações do apóstolo. É na humildade e na confiança, resistindo à tentação de duvidar do seu amor, que Pedro confirmará o seu amor a Jesus. E Jesus o confirmará na missão de cuidar, alimentar, e dar vida aos seus seguidores, a começar pelos mais pequenos: os cordeiros. Não há outro critério fundamental, nem exame ou prova a executar: o amor é que conta. Crer em Jesus é muito mais do que conhecer e aceitar verdades acerca de Deus. É amá-l’O e abraçá-l’O. E essa é a base para que tudo mude, tudo se renove, e as redes da vida venham cheias! Do amor que vence todas as mortes, que não se pode guardar mas é para dar em abundância!

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