O Rei diferente

Liturgia 14 abril 2019  •  Tempo de Leitura: 4

DOMINGO DE RAMOS Ano C

«Bendito o Rei que vem em nome do Senhor.

Paz no Céu e glória nas alturas!»

Lc 19, 38

 

Falar de “rei” e de “reino” provoca um incómodo “monárquico” ao recordar lutas de poder e guerras, domínio e exploração, “famílias” e descendências, classes privilegiadas e desfavorecidas, esplendor de uns e miséria de muitos. São certamente redutoras estas ideias e o mundo desenvolvido e democrático em que vivemos já as ultrapassou! É também desse imaginário que vive a série “A Guerra dos Tronos” que entra na sua última série por estes dias, aguardando-se a revelação de quem se irá sentar no “trono de ferro”!

 

O Reino de Deus que Jesus anunciou e mostrou estar já presente no mundo com a sua vinda, é essencialmente outro. Correndo o risco de utilizar categorias já gastas pelas “realezas” humanas, Jesus desmontou as ideias habituais de “realeza”. Ele é o “rei diferente”, que o profeta Zacarias (9, 9-10) anunciou: o rei pobre, pacífico e universal. É o rei que vem até nós, em vez de esperar que todos venham até ele.

 

Ele é o pobre, rei dos pobres, que entra em Jerusalém sentado num jumento que não lhe pertence. Não vem tomar o poder, nem encabeçar uma revolução. Aceita as aclamações da multidão, das crianças e dos discípulos pois conhece o seu desejo de esperança, a sua fome e sede de justiça. Não traz riquezas para distribuir nem promessas ilusórias de paraísos na terra. Ele é o rei dos crentes e humildes das bem-aventuranças, que não vai fazer “em vez de” mas convoca todos à conversão, à mudança de vida, à aceitação das suas palavras e dos seus gestos de amor, a deixarmo-nos orientar por Deus. É com a pobreza da sua vida dada por amor que Ele vai enriquecer a humanidade.

  

É também o rei da paz. Proclama o escândalo e a desumanidade da guerra, da destruição dos outros e do mundo, da escalada de conflitos e da invenção de armamentos mais sofisticados. A batalha contra o egoísmo e a soberba implica reconciliação e perdão. Desafia a não amar só os que nos amam e fazer o bem aos nossos: é preciso amar os inimigos e fazer bem a quem nos odeia. Revela como a vida se perde quando se tenta ganhar mais bens, mais riqueza, quando cresce a indiferença ao sofrimento e à injustiça, mesmo às portas de casa, tão perto do coração. Dá-nos uma única arma: a cruz, sinal perdão e de amor, da vida que se ganha quando é dada por amor, da paz que é a felicidade partilhada.

 

Ele é o rei universal, sem família nem dinastia privilegiada a quem oferecer lugares de honra, mas fazendo de toda a humanidade a família única. Todos filhos do mesmo Pai que ama incondicionalmente, e irmãos de todas as raças, línguas e feitios. O seu reino não tem fronteiras, nem muros, nem ricos nem pobres, nem privilegiados nem excluídos. Na maravilhosa diversidade de dons e culturas, revela a grandeza do coração humano que pode alargar-se ao infinito. E o seu poder é dar vida, fazer Páscoa, tornar-se nosso alimento. Pão que comemos para construir o seu Reino, para vivermos com Ele e como Ele.

 

É este o Rei que aclamamos e amamos? É o seu Reino que vamos edificando?

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