Onde estão as estrelas?

Liturgia 15 dezembro 2018  •  Tempo de Leitura: 2

São sempre as mesmas noites, a mesma planície escura sobre nós. Intensa, negra e infinita. Mesmo quando nos prometem, como noticiaram, uma «chuva de estrelas, quando os meteoros em combustão invadirem a atmosfera terrestre…», o céu permanece impávido, como se recusasse a participar no espírito do tempo, a festa da abundância.

 

Em vão aguardamos sinais extraordinários no céu. Adormecemos cansados de esperar. Sonhamos com as estrelas em movimento de um quadro de Van Gogh, mas o céu, esse pedaço de eternidade, mantém-se imperturbável, como se escondesse, no fundo das gavetas do universo, o enxame de estrelas cadentes.

 

Soube, já ao amanhecer, que as cidades matam as estrelas, que elas foram dispensadas de aparecer nas noites luminosas dos centros urbanos e que se tornaram objeto de estudo para cientistas, como se fossem coisas do passado. Talvez por isso elas estejam ressentidas e só exibam o seu brilho, de tempos a tempos, a certas pessoas, as que ainda persistem em espreitá-las no horizonte arroxeado do entardecer.

 

Revejo, neste tempo inaugural, o que fomos como povo que atravessou oceanos orientado pelo mapa celeste, como fomos peregrinos que cruzaram continentes até abraçar santuários guiados pelo reflexo ténue vindo do céu e como outrora adormecemos em paz, embalados pela contagem irregular dos astros cintilantes.

 

As estrelas fazem-nos falta. Perdemo-nos encadeados pelo brilho excessivo das cidades. Estamos bloqueados pelas luzes intermitentes e enfeites provisórios.

 

Enquanto dura este Advento, procuro habituar-me ao escuro para que possa contemplar, com nitidez, a luz de infinita claridade que surge no Oriente.

 

E peço todos os dias a João, o Batista, esse oftalmologista divino, que me ajude a ver de novo.

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