Os encontros salvam

Liturgia 1 julho 2018  •  Tempo de Leitura: 4

DOMINGO XIII COMUM Ano B

“Voltou-Se para a multidão e perguntou: 

«Quem tocou nas minhas vestes?»”

Mc 5, 30

 

O provérbio é antigo: “Não deixes que cresça a erva no caminho, que vai da tua casa à casa do teu vizinho”! E bem sabemos que, quando não há caminhos para unir pessoas e terras, é preciso abri-los, cuidar deles, falar deles a todos, pois a morte antecipada é a do isolamento e da auto-suficiência. Nascemos com sede de conhecer e de comunicar, de criar ligações e vencer distâncias, de dar e receber. E deixamos de viver quando o tal matagal ganha espaço na alma, nas estruturas, nas organizações, deixando de nos olharmos face a face, preferindo a certeza da distância à insegurança do encontro. Porque todo o encontro vive da mútua necessidade e desmonta a riqueza estéril de quem julga não precisar dos outros. E cresce quando nos deixamos tocar pelo outro!

 

Jesus não teme a multidão, nem receia os seus apertos. O ponto único da sua agenda é a proximidade, especialmente ir ao encontro dos que sofrem. Uma proximidade com pessoas concretas. E neste evangelho, encontra-se com duas mulheres: uma, doente há doze anos, outra, à beira da idade adulta, com 12 anos, em perigo de morte. A doença e a morte são o fim dos nossos encontros. Como é difícil acompanhar quem adoece; como é doloroso o encontro com que já ali não está. Muitos tocam em Jesus, mas só aquela mulher experimentou a salvação. Quantos de nós somos multidão, que “tocamos Jesus”, sem que a nossa vida se transforme? Pela sua fé, o amor de Deus em Jesus salvou-a. E o encontro, pedido por Jesus, é ocasião para ela dizer-lhe a verdade, e ser confirmada na fé.

 

Por entre o alvoroço, o choro e os gritos em casa da menina que tinha morrido, Jesus, na intimidade, vence o maior inimigo que é a morte. A multidão não é capaz de crer, até se ri de Jesus, e por isso não viu Jesus a pegar a menina pela mão, a ordenar que se levantasse, e a mandar dar-lhe de comer. Não há becos sem saída para Deus. Os especialistas em afirmá-los, e até em criá-los, somos nós. Quantas situações de sofrimento persistem no mundo porque não vamos ao encontro das pessoas nelas envolvidas? Quantas respostas e soluções não surgem porque não dialogamos? Quantas curas e ressurreições não acontecem porque interesses mesquinhos e egoístas prevalecem? É só olhar em volta para os encontros que salvam!

 

No mesmo dia desta semana, duas nomeações do Papa Francisco sublinharam o seu projecto da arte do encontro. A do P. José Tolentino Mendonça, nomeado Arcebispo e novo arquivista e bibliotecário da Santa Sé, que manifestou a intenção de “servir a cultura” e a descreveu deste modo: “A Cultura, no seu sentido mais verdadeiro, é prática de escuta, de atenção, de intercâmbio e de interdependência; é exercício interminável de hospitalidade”. E a de D. Francisco Senra Coelho, nomeado Arcebispo de Évora, que disse: “Temos de ter uma atenção muito grande ao acompanhamento de cada pessoa, nomeadamente os idosos, à problemática da solidão, à interioridade que faz com que os montes alentejanos estejam perdidos na charneca da planície e é necessário uma Igreja muito atenta ao testemunho de uma caridade, ativa, com capacidade e criatividade para situações novas.” Dois caminhos da mesma missão de Jesus, que é para todos os seus discípulos: multiplicar os encontros que salvam!

 

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