Construtores de pontes

Liturgia 23 junho 2018  •  Tempo de Leitura: 3

NASCIMENTO DE S. JOÃO BAPTISTA

“O seu nome é João”

Lc 1, 63

 

  

Fazer pontes é um trabalho árduo. Unir margens, atravessar abismos, galgar distâncias é fruto de engenharia e sonho, de risco e trabalho. Os muros podem servir de defesa, mas são as pontes que geram crescimento e comunhão. Sabe-se que em tempo de guerra elas são alvos prioritários a destruir, para isolar e melhor vencer os adversários. Assim no espaço, como nas relações, as pontes ligam-nos uns aos outros, promovem partilha e destinos comuns, alargam horizontes, espalham a riqueza da diversidade. Um mundo, uma sociedade, uma vida, em que se criem mais muros do que pontes acaba por autodestruir-se.

 

João Baptista nasce de pais velhos, como dom inesperado. A escolha do seu nome lembra que ninguém é anónimo para Deus. Já o dissera o profeta Isaías: "O Senhor chamou-me desde o ventre materno, disse o meu nome desde o seio de minha mãe.” (49, 1). João significa que Deus é favorável: ao homem, ao seu povo, à humanidade. Ainda que os nossos nomes não apontem nenhuma missão, nenhuma vida é indiferente, nem insignificante. Cada pessoa pode imprimir na terra e nos corações um rasto único. O milagre da vida traz milagres quotidianos, muitos deles imperceptíveis, mas todos importantes. Viver é acolher e partilhar dons, semear para que outros colham, e lançar sobre o abismo do isolamento as pontes do encontro com todos e com Deus.

 

Vejo em João Baptista um construtor de pontes. Nele, o Antigo Testamento chegou ao seu termo e fez-se a passagem para o Novo. Ele é aquele que indicou, que assinalou Cristo. É a voz porque outro é a palavra; voz que passa, Palavra que fica. É o que diminui para que outro cresça. Sabe que não é a luz mas veio dar testemunho da luz; como a lua que reflecte a luz do sol e o anuncia. Não toma posse de nada e até da vida se desprende. Tal como a Igreja, que não é dona de Cristo, antes vive d'Ele e O anuncia. Modelo de fé, mesmo quando, na prisão, duvida e manda discípulos interrogar Jesus. Modelo de humildade, cuja alegria é anunciar a vinda de Jesus, apagando-se no martírio. Modelo de coerência e coragem, não temendo ser considerado louco, e não desistindo de convidar à mudança de vida. 

 

Há um pouco de João Baptista em todos os que apontam mais longe e mais alto e se empenham em fazer pontes. Aqueles desejam e favorecem o crescimento dos outros, da verdade e da justiça. Aqueles que educam e estimulam a aprender, que inovam e criam, sem desejo de honrarias nem louvores. Aqueles que não se acomodam à mediocridade, nem ficam indiferentes à injustiça. Apontam o que está mal e não calam o que pode ser corrigido. Provocam o pensamento e o diálogo que geram transformação. Profetas da beleza e da autenticidade não se conformam com uma humanidade menor. Alguns são assim porque sim, outros também porque olham a vida com os olhos de Cristo.

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